Nunca a expressão «a luta continua» traduziu tão exactamente o estado de espírito dos trabalhadores e dos povos dos países que constituem a União Europeia como nesta viragem para o novo ano de 2011. Há muito tempo que não se verificava um caudal tão forte de lutas e protestos como o que se viveu ao longo do ano que está a findar.
O crescendo de concentrações, greves e manifestações que se estendeu do Báltico a Portugal e à Irlanda atingiu praticamente todos os países da União Europeia, envolvendo sectores chaves dos bancos, da indústria e dos serviços públicos, dos transportes e da energia, da educação e da saúde. Está-se perante um salto qualitativo na determinação e nas lutas contra as políticas de desastre com que os governantes da «Europa connosco» estão a destruir o futuro de milhões e milhões de seres humanos e de famílias e que tudo indica irá intensificar-se ainda mais ao longo deste ano que agora começa.
Segundo o último estudo do Eurostat recentemente divulgado, em 2008, portanto ainda antes da actual vaga de ataques contra o nível de vida e os direitos dos trabalhadores, 116 milhões de pessoas (um quarto da população da União Europeia), já vivia numa situação de exclusão social (Avante! 23.02.2010).
Não sendo possível enumerar a infinidade das acções de resistência do trabalho contra o capital basta lembrar que pela primeira vez no espaço de poucos meses se registou greves gerais pelo menos em cinco países da União Europeia, incluindo Portugal, a Espanha, a França, o Norte da Itália (Piemonte, Ligúria e Toscana) e a Grécia, país onde em menos de um ano já se registou 14 grandes paralisações. Não há nenhum Estado da UE onde não se processem lutas de maior ou menor amplitude, nomeadamente na Europa do Leste onde o número de participantes nas greves do sector público da Checoslováquia à Roménia aumenta constantemente. Os três milhões de trabalhadores que em Portugal participaram na greve histórica de 24 de Novembro culminaram também uma sucessão de lutas e manifestações, entre as quais o desfile do 1.° de Maio.
O descrédito do grande capital e a crescente revolta dos trabalhadores e das populações têm vindo a arrastar cada vez mais sindicatos reformistas para a luta, cujos dirigentes são forçados nos momentos decisivos a congelar a banha-da-cobra da «parceria social» e da «igualdade» entre o trabalho e o capital.
Não esqueçamos que pelo menos em Portugal, na Espanha e na Grécia as greves gerais são dirigidas contra a ofensiva direitista conduzida por governos de partidos socialistas ao serviço de interesses reaccionários e retrógrados. Mesmo estando na oposição, a incapacidade da social-democracia em diferenciar-se dos clássicos partidos de direita paralisou-a e está a torná-la politicamente supérflua na França, na Itália, na Alemanha e noutros países.
Apesar das intimidações, da chantagem e do radicalismo com que prega a capitulação e a subserviência face à oligarquia dos mercados - como ainda recentemente se viu por parte do Presidente da República no debate televisivo que o opôs a Francisco Lopes - serão os trabalhadores e os povos quem terá a última palavra.
O carácter desumano e opressor do sistema de exploração do homem pelo homem é hoje uma realidade para milhões e milhões de pessoas e está a confirmar como os objectivos e a acção dos comunistas correspondem cada vez mais às aspirações das massas populares.
Em 2011 a luta não só vai continuar como vai tornar-se ainda mais forte e poderosa.
Eis o caminho da verdadeira alternativa.
Rui Paz (analista de política internacional)
Este texto foi publicado no Avante nº 1.935 de 30 de Dezembro de 2010.
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