Intervenção de Jerónimo de Sousa, Secretário-geral do PCP, Lisboa
1. Estas eleições confirmaram plenamente a justeza e importância da decisão do PCP de intervir com uma voz própria e autónoma no debate e esclarecimento sobre a situação do país e os seus responsáveis, sobre o papel e poderes exigidos ao Presidente da República e sobre a imperiosa necessidade de uma ruptura com a política de direita capaz de abrir caminho a um Portugal mais desenvolvido, justo e soberano.
Francisco Lopes assumiu-se nestas eleições como a candidatura alternativa a Cavaco Silva e à politica de direita com que está comprometido. Tendo como centro da sua intervenção a afirmação de um outro rumo para Portugal, Francisco Lopes inscreveu no debate eleitoral os problemas do país, a denúncia das politica e dos responsáveis pela situação nacional, os poderes e funções que seriam exigidos a um Presidente da República que respeite e faça respeitar a Constituição da República. Uma contribuição única e singular na introdução na campanha de questões cruciais como as da valorização dos trabalhadores e dos seus direitos, da produção nacional, da exigência da subordinação do poder económico ao poder político, da afirmação da soberania e independência nacionais.
A votação obtida por Francisco Lopes traduz o apoio de centenas de milhar de portugueses e constitui uma inequívoca afirmação de combatividade e de exigência de uma profunda mudança na vida nacional. Um apoio que contará mais do que qualquer outro para a necessária e imprescindível continuação da luta contra as injustiças e o processo de declínio nacional para o qual PS, PSD e Cavaco Silva têm arrastado o país.
Uma votação tão mais significativa quanto construída na base de uma empenhada intervenção e mobilização populares que, combatendo a resignação e o conformismo, vencendo silenciamentos e discriminações, trouxe a esta campanha um projecto de esperança e confiança nos trabalhadores, no povo e no país. Uma votação numa candidatura patriótica e de esquerda, liberta de qualquer comprometimento com a política de direita e com os grupos económicos que, como nenhuma outra, se assumiu como a candidatura dos trabalhadores, a candidatura vinculada aos valores e conquistas de Abril.
2. A reeleição de Cavaco Silva, que culmina de forma negativa estas eleições presidenciais, representa na situação que o País vive, não apenas a persistência dos problemas nacionais mas um salto qualitativo no seu agravamento, um acrescido factor de ânimo para novos ataques ao regime democrático, aos valores e conquistas de Abril.
Uma reeleição construída com base na abusiva utilização das suas funções institucionais e dos meios da Presidência, assente na dissimulação descarada das suas responsabilidades pelos problemas nacionais e pelas opções e medidas que atingem a vida de milhões de portugueses e na intolerável chantagem sobre os eleitores que nos últimos dias introduziu no seu discurso. Mas sobretudo beneficiária directa do sentimento de indignação e rejeição da política do Governo de José Sócrates e do PS por parte de muitos eleitores que viram erradamente em Cavaco Silva uma forma de o expressar.
Cavaco Silva na Presidência significará um factor de agravamento do rumo de declínio económico e de injustiça social, a confirmada submissão do país aos interesses estrangeiros e à chantagem do grande capital, um incentivo ao prosseguimento da política de direita seja com base na cooperação estratégica com o actual Governo do PS ou com a cúmplice intervenção para viabilizar a chegada ao poder de um governo do PSD e do CDS. Uma presença na Presidência que seguramente assegurará estabilidade à política de direita mas que significará mais instabilidade na vida dos trabalhadores e do povo.
O facto do resultado de Cavaco Silva se traduzir na menor das maiorias alcançadas até hoje numa reeleição para um segundo mandato põe em evidencia o juízo negativo sobre o exercício das suas funções e sobre as responsabilidades que partilha na situação que o país vive. Um resultado também marcado por um inquietante crescimento da abstenção que em si mesma é expressão da condenação da política de direita.
Este resultado de Cavaco Silva e a sua reeleição não impedirá que se amplie e intensifique a indignação, o protesto e a luta de todos quantos não aceitam o rumo de desigualdades e injustiças que tem patrocinado.
3. A corrente de mobilização que a candidatura de Francisco Lopes suscitou, o esclarecimento que fez dos problemas do país e das políticas por eles responsáveis e a inestimável contribuição que a sua campanha e a acção dos milhares de activistas que nela participaram deram para combater desalentos e descrenças, projecta-se num futuro próximo como um factor essencial para o desenvolvimento da luta e das batalhas políticas que a situação do país e a política de direita impõem aos trabalhadores e ao nosso Partido.
Uma saudação especial ao camarada Francisco Lopes que protagonizou esta exigente e importante batalha e aos milhares de activistas e apoiantes que construíram uma campanha sem paralelo com quaisquer outras candidaturas de contacto directo, de mobilização e esclarecimento sobre a situação do país e o papel exigido ao Presidente da República para, no respeito com a Constituição, agir para assegurar uma ruptura com o rumo de declínio e retrocesso social que a política de sucessivos governos tem provocado.
Uma saudação a todos os comunistas, aos activistas do Partido Ecologista Os Verdes e aos membros da Associação Intervenção Democrática que honraram esta candidatura com a manifestação do seu apoio, aos milhares de homens e mulheres sem partido que identificaram nesta candidatura a expressão de um projecto e de um exercício das funções presidenciais capaz de dar resposta aos problemas e desafios com que o país está confrontado.
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