Proletários de todos os Países, uni-vos.

28 dezembro 2010

Assembleia Municipal de 17 de Dezembro

PARTICIPAÇÃO DO ELEITO DA CDU
Aspectos mais relevantes tratados:
No período antes da ordem do dia foi mais uma vez abordado o tema da poluição proveniente da ETAR e do Aterro Sanitário de Alcanena.
O eleito da CDU referiu que a AUSTRA é apenas a entidade a quem foi confiada a exploração da ETAR, mas que não é a proprietária; se não está a executar as funções como deve, poderá ser posta em causa, uma vez que poderá não estar a cumprir com as obrigações que tem para com a população do concelho.
Depois de o Presidente da Assembleia Municipal ter referido que está a procurar estabelecer consensos para a discussão deste tema, foi decidido aguardar até à próxima reunião da Assembleia Municipal, antes de empreender outro tipo de acções. No entanto, parece existir consenso entre as diversas forças políticas da oposição, no sentido de este assunto ter que ser amplamente discutido, e que a Assembleia Municipal deve ter uma palavra a dizer quanto à fiscalização da actividade da AUSTRA.
No período da Ordem de Trabalhos, a CDU votou:
• A favor das expropriações para alargamento e remodelação das estradas Moita Alcanena e Minde Vale Alto;
• Contra a alteração de Estatutos da Empresa de Melhoramentos de Alcanena (EMA), por se considerar que o objecto da sua actividade se confunde com a da própria Câmara Municipal, e por não concordar com diversas disposições dos Estatutos, designadamente com a competência do Conselho de Administração deliberar sobre o aumento de capital. (Registe-se que a maioria votou favoravelmente esta alteração, não obstante o fazer no entendimento que esta empresa poderá ser para extinguir, resolvidos que estejam diversos problemas do seu funcionamento);
• Pela abstenção em relação ao aumento de capital da EMA, por não estar clarificado o controlo que venha a ser exercido sobre essa empresa;
• Também se absteve na Taxa Municipal de Direitos de Passagem, relativa às telecomunicações, uma vez que, pese embora a difícil situação financeira da autarquia, essa taxa acaba por ser reflectida nos consumidores finais;
• Quanto às Opções do Plano e ao Orçamento, a CDU fez uma intervenção e uma declaração de voto, que constam de documentos próprios, tendo votado contra os mesmos.

APRECIAÇÃO SOBRE O ORÇAMENTO DE 2011
Analisámos com cuidado vários aspectos do orçamento para 2011, tendo a colocar as seguintes questões:
Nas receitas:
• A que se deve a previsão de venda de bens de investimento de 5,6 milhões de euros (que teve uma execução de 0,034 milhões de euros em 2009)?
• Como explicar que o valor das prestações de Serviços mais que duplique da execução de 2009 para o Orçamento de 2011 (passa de 1,813 milhões de euros para 4,148 milhões de euros)?
• Como se explica que a rubrica Loteamento e Obras tenha uma execução de 24,8 mil euros em 2009 e um orçamento para 2011 de 102 mil euros? Será que no concelho de Alcanena não há crise no sector da construção civil?
• E as multas e outras penalidades, que passam de 25,5 mil euros para 136 mil euros? Iremos ter fiscais por todo o lado
• E as vendas de bens e serviços correntes, que passam de 1,713 milhões de euros para 4,149 milhões de euros?
Nas despesas:
• As despesas de capital passam de cerca de 5 milhões de euros para cerca de 12 milhões de euros, ou seja, mais que duplicam. Não pomos em causa a inscrição de vários investimentos que têm que ser feitos, mas a difícil situação económica e financeira do Município de Alcanena devia ser tida em conta na elaboração deste Orçamento, procurando orientar os investimentos para o desenvolvimento do concelho.
• Analisámos a lista de investimentos previstos, e destacamos as seguintes obras:
• Requalificação Jardim Municipal Alcanena 0,9
• Requalificação do Quartel dos Bombeiros Municipais 0,3
• Construção do Centro Escolar de Alcanena 0,5
• Construção (conclusão) do Museu do Curtume 0,5
• Execução de infra-estruturas da Zona Industrial de Minde 0,9
• Remodelação da Estrada Minde-Vale Alto 1,7
• Remodelação da Estrada Moita-Alcanena 1,5
o que nos suscita os seguintes comentários:
• Será urgente requalificar o Jardim Municipal?
• Não se pode estancar a sangria de fundos para o Museu do Curtume?
• Existe procura para a Zona Industrial de Minde?
• Não existe nenhuma comparticipação da autarquia na requalificação da ETAR de Alcanena?
• Para quando a inscrição de investimentos em infra-estruturas que permitam perspectivar o desenvolvimento económico do concelho de Alcanena?
• Em relação às contas de 2009 (cerca de 8,9 milhões de euros de despesa paga) verifica-se um acréscimo de cerca de 30%, para 11,6 milhões de euros.
• As operações financeiras correntes apresentam uma redução de 0,37 milhões de euros (-66%) face ao valor de 2009. Estas despesas referem-se a juros. Como explicar esta redução?

DECLARAÇÃO DE VOTO SOBRE O ORÇAMENTO DE 2011
À semelhança do orçamento de 2010, trata-se de um documento claramente irrealista, em que se ficcionam receitas correntes e de capital, para dar cobertura a despesas que não se vão realizar. Seria aconselhável que apenas fossem inscritas as receitas em que existem expectativas de realização, para assim serem inscritas as despesas que serão efectivamente realizadas, ao contrário do que acontece, em que existe uma mistura de situações reais com outras que são meras declarações de intenções. Por isto, os deputados municipais são chamados a votar, não um Orçamento para executar, com opções claras e bem definidas, mas um conjunto de intenções, que serão ou não executadas, de acordo com o entendimento e com as prioridades do executivo camarário.
Com tantas questões em aberto, a CDU não pode dar o seu apoio a um orçamento que não cumpre com as regras de endividamento das autarquias, e que não constitui alavanca para o desenvolvimento do concelho. Daqui a justificação para o nosso voto contra o Orçamento para 2011.

Despesa por classificação orgânica. Aqui

Demonstração de resultados. Aqui

27 dezembro 2010

Conto de Natal – Maria e José na Palestina em 2010

Os tempos eram duros para José e Maria. A bolha imobiliária explodira. O desemprego aumentava entre trabalhadores da construção civil. Não havia trabalho, nem mesmo para um carpinteiro qualificado.
Os colonatos ainda estavam a ser construídos, financiados principalmente pelo dinheiro judeu da América, contribuições de especuladores de Wall Street e donos de antros de jogo.
“Bem”, pensou José, “temos algumas ovelhas e oliveiras e Maria cria galinhas”. Mas José preocupava-se, “queijo e azeitonas não chegam para alimentar um rapaz em crescimento. Maria vai dar à luz o nosso filho um dia destes”. Os seus sonhos profetizavam um rapaz robusto a trabalhar ao seu lado… multiplicando pães e peixes.
Os colonos desprezavam José. Este raramente ia à sinagoga, e nas festividades chegava tarde para fugir à dízima. A sua modesta casa estava situada numa ravina próxima, com água duma ribeira que corria o ano inteiro. Era mesmo um local de eleição para a expansão dos colonatos. Por isso quando José se atrasou no pagamento do imposto predial, os colonos apropriaram-se da casa dele, despejaram José e Maria à força e ofereceram-lhes bilhetes só de ida para Jerusalém.
José, nascido e criado naquelas colinas áridas, resistiu e feriu uns tantos colonos com os seus punhos calejados pelo trabalho. Mas acabou abatido sobre a sua cama nupcial, debaixo da oliveira, num desespero total.
Maria, muito mais nova, sentia os movimentos do bebé. A sua hora estava a chegar.
“Temos que encontrar um abrigo, José, temos que sair daqui… não há tempo para vinganças”, implorou.
José, que acreditava no “olho por olho” dos profetas do Antigo Testamento, concordou contrariado.
E foi assim que José vendeu as ovelhas, as galinhas e outros pertences a um vizinho árabe e comprou um burro e uma carroça. Carregou o colchão, algumas roupas, queijo, azeitonas e ovos e partiram para a Cidade Santa.
O trilho era pedregoso e cheio de buracos. Maria encolhia-se em cada sacudidela; receava que o bebé se ressentisse. Pior, estavam na estrada para os palestinos, com postos de controlo militares por toda a parte. Ninguém tinha avisado José que, enquanto judeu, podia ter-se metido por uma estrada lisa pavimentada – proibida aos árabes.
Na primeira barragem José viu uma longa fila de árabes à espera. Apontando para a mulher muito grávida, José perguntou aos palestinos, meio em árabe, meio em hebreu, se podiam continuar. Abriram uma clareira e o casal avançou.
Um jovem soldado apontou a espingarda e disse a Maria e a José para se apearem da carroça. José desceu e apontou para a barriga da mulher. O soldado deu meia volta e virou-se para os seus camaradas. “Este árabe velho engravida a rapariga que comprou por meia dúzia de ovelhas e agora quer passar”.
José, vermelho de raiva, gritou num hebreu grosseiro, “Eu sou judeu. Mas ao contrário de vocês… respeito as mulheres grávidas”.
O soldado empurrou José com a espingarda e mandou-o recuar: “És pior do que um árabe – és um velho judeu que violas raparigas árabes”.
Maria, assustada com o caminho que as coisas estavam a tomar, virou-se para o marido e gritou, “Pára, José, ou ele dispara e o nosso bebé vai nascer órfão”.
Com grande dificuldade, Maria desceu da carroça. Apareceu um oficial do posto da guarda, a chamar por uma colega, “Oh Judi, apalpa-a por baixo do vestido, ela pode ter bombas escondidas”.
“Que se passa? Já não gostas de ser tu a apalpá-las?” respondeu Judith num hebreu com sotaque de Brooklyn. Enquanto os soldados discutiam, Maria apoiou-se no ombro de José. Por fim, os soldados chegaram a um acordo.
“Levanta o vestido e o que tens por baixo”, ordenou Judith. Maria ficou branca de vergonha. José olhava para a espingarda desmoralizado. Os soldados riam-se e apontavam para os peitos inchados de Maria, gracejando sobre um terrorista ainda não nascido com mãos árabes e cérebro judeu.
José e Maria continuaram a caminho da Cidade Santa. Foram frequentes vezes detidos nos postos de controlo durante a caminhada. Sofriam sempre mais um atraso, mais indignidades e mais insultos gratuitos proferidos por sefarditas e asquenazes, homens e mulheres, leigos e religiosos – todos soldados do povo Eleito.
Já era quase noite quando Maria e José chegaram finalmente ao Muro. Os portões já estavam fechados. Maria chorava em pânico, “José, sinto que o bebé está a chegar. Por favor, arranja qualquer coisa depressa”.
José entrou em pânico. Viu as luzes duma pequena aldeia ali ao pé e, deixando Maria na carroça, correu para a casa mais próxima e bateu à porta com força. Uma mulher palestina entreabriu a porta e espreitou para a cara escura e agitada de José. “Quem és tu? O que é que queres?”
“Sou José, carpinteiro das colinas do Hebron. A minha mulher está quase a dar à luz e preciso de um abrigo para proteger Maria e o bebé”. Apontando para Maria na carroça do burro, José implorava na sua estranha mistura de hebreu e árabe.
“Bem, falas como um judeu mas pareces mesmo um árabe”, disse a mulher palestina a rir enquanto o acompanhava até à carroça.
A cara de Maria estava contorcida de dores e de medo; as contracções estavam a ser mais frequentes e intensas.
A mulher disse a José que levasse a carroça de volta para um estábulo onde se guardavam as ovelhas e as galinhas. Logo que entraram, Maria gritou de dor e a palestina, a que entretanto se juntara uma parteira vizinha, ajudou rapidamente a jovem mãe a deitar-se numa cama de palha.
E assim nasceu a criança, enquanto José assistia cheio de temor.
Aconteceu que passavam por ali alguns pastores, que regressavam do campo, e ouviram uma mistura de choro de bebé e de gritos de alegria e se apressaram a ir até ao estábulo levando as suas espingardas e leite fresco de cabra, sem saber se iam encontrar amigos ou inimigos, judeus ou árabes. Quando entraram no estábulo e depararam com a mãe e o menino, puseram de lado as armas e ofereceram o leite a Maria que lhes agradeceu tanto em hebreu como em árabe.
E os pastores ficaram estupefactos e pensaram: Quem seria aquela gente estranha, um pobre casal judeu, que chegara em paz com uma carroça com inscrições árabes?
As novas espalharam-se rapidamente sobre o estranho nascimento duma criança judia mesmo junto ao Muro, num estábulo palestino. Apareceram muitos vizinhos que contemplavam Maria, o menino e José.
Entretanto, soldados israelenses, equipados com óculos de visão nocturna, reportaram das suas torres de vigia que cobriam a vizinhança palestina: “Os árabes estão a reunir-se mesmo junto ao Muro, num estábulo, à luz das velas”.
Abriram-se os portões por baixo das torres de vigia e de lá saíram camiões blindados com luzes brilhantes, seguidos por soldados armados até aos dentes que cercaram o estábulo, os aldeões reunidos e a casa da mulher palestina. Um altifalante disparou, “Saiam cá para fora com as mãos no ar ou disparamos”. Saíram todos do estábulo, juntamente com José, que deu um passo em frente de braços virados para o céu e falou, “A minha mulher Maria não pode obedecer às vossas ordens. Está a amamentar o menino Jesus”.

Este artigo foi publicado em www.lahaine.org e em http://resistir.info.

16 dezembro 2010

Sessão Ordinária da Assembleia Municipal




Dia 17 de Dezembro, sessão ordinária da Assembleia Municipal com a seguinte

Ordem de Trabalhos.

13 dezembro 2010

Francisco Lopes esteve em Torres Novas

Francisco Lopes, candidato à Presidência da República esteve em Torres Novas tendo participado num almoço convívio que juntou no Pavilhão de Ribeira Ruiva mais de duas centenas de apoiantes. O candidato apoiado pelo PCP e pelo PEV e inúmeros democratas independentes passou pelo concelho de Torres Novas no âmbito de uma série de iniciativas no distrito de Santarém. O Candidato começou o dia visitando as zonas afectadas pelo tornado em Tomar durante esta semana e depois do almoço na freguesia torrejana rumou a Couço (Coruche) e Benavente.


 
Durante o almoço realizado na freguesia de Ribeira Branca, de amplas e antigas tradições democráticas, o candidato teve oportunidade de realizar uma intervenção política destacando os aspectos essenciais e diferenciadores da sua candidatura.
Com efeito, Francisco Lopes, após saudar a organização do almoço confeccionado e servido pelo trabalho militante dos seus apoiantes, começou por anunciar que o Grupo Parlamentar do PCP através do deputado António Filipe – eleito pelo distrito de Santarém e que se encontrava igualmente presente na sala – convocará o Ministro da Administração Interna para que detalhe as medidas tomadas pelo governo de apoio às vítimas do tornado em Tomar. Ainda referenciando temas da região, Francisco Lopes referiu-se às portagens que o governo pretende instalar na A-23 e que trarão inúmeros prejuízos aos cidadãos e muitas pequenas e médias empresas da nossa região.
O candidato presidencial comunista passaria de seguida a enumerar as razões da importância da sua candidatura salientando as diferenças com as demais, nomeadamente o facto de não estar comprometida com as políticas que nos últimos 30 anos “desgovernaram” o país.
Assumindo que a sua candidatura é uma candidatura de ruptura, vinculada aos valores de Abril em defesa de um projecto patriótico e de esquerda para Portugal, Francisco Lopes vincou que não há nestas eleições vencedores antecipados tendo realçado que é possível derrotar Cavaco Silva e que cada voto na sua candidatura será um voto que derrotará o actual Presidente da República apoiado pela direita.
Dirigindo ainda as suas atenções para Cavaco Silva, Francisco Lopes reconheceu “que é uma vergonha tanta fome, miséria, pobreza em Portugal” salientando no entanto que"é igualmente uma vergonha que pessoas como Cavaco Silva e outros responsáveis não se envergonhem de não ter vergonha por aquilo que fizeram com a política que fizeram", responsabilizando também o actual Chefe de Estado pela situação do país.
Antes do Hino Nacional, entoado por todos os presentes na sala, Francisco Lopes terminaria a sua intervenção apelando à confiança e combatendo o discurso da resignação reafirmando que há alternativas para resolver a situação de crise que o país atravessa.

09 dezembro 2010

«Derrotemos o imperialismo, por um mundo de paz, solidariedade e transformação social»

Delegação portuguesa parte no dia 12 para a África do Sul
Mais de 20 mil jovens de cerca de 150 países vão participar, de 13 a 21 de Dezembro, no 17.º Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes (FMJE), que este ano se realiza na África do Sul, e que tem como lema «Derrotemos o imperialismo, por um mundo de paz, solidariedade e transformação social». De Portugal vão cerca de 30 jovens, a título individual e em representação de diversas organizações, nomeadamente da JCP, da Ecolojovem, da Interjovem, da Associação Recreativa e Cultural de Músicos, do Sindicato dos Enfermeiros e de «Os Pioneiros».
Ao Avante!, Ana Sofia e Helena Barbosa, da JCP, e Valter Lóios, da Interjovem, explicaram que esta é a maior iniciativa juvenil, à escala internacional, de luta contra o imperialismo e um grande momento de unidade, debate e convívio entre jovens de todo o mundo que lutam e aspiram por um mundo melhor, de paz e solidariedade entre os povos.

A delegação portuguesa, que reflecte o amplo movimento juvenil nacional, bem como as intensas lutas que se têm travado no nosso País, começou a formar-se com o início das actividades do Comité Nacional Preparatório (CNP) português que, durante este ano, divulgou e promoveu o Festival no nosso País. «O CNP está constituído desde Maio e, a partir dessa data, temos vindo a alargar a sua composição [actualmente com cerca de 30 organizações], chegando a cada vez mais jovens», afirmou Helena Barbosa, dando como exemplo o acampamento que se realizou, de 23 a 25 de Junho, no concelho de Avis, com cerca de 250 jovens, e que contou com um leque muito diversificado de iniciativas, que passaram pelos concertos, cinema ao ar livre, desporto, debates, canoagem e exposições. «Foi uma forma de nos aproximarmos dos jovens e de mostrarmos o que era o Festival, o seu carácter e a sua importância no mundo de hoje», salientou. «Não há muitas oportunidades, hoje em dia, de participar num evento com estas características anti-imperialistas, de defesa dos valores da paz», acrescentou Ana Sofia.
Para Helena Barbosa e Ana Sofia é a primeira vez que vão a um Festival Mundial da Juventude, já Valter Lóios vai repetir a experiência, uma vez que participou na última edição do Festival que teve lugar, em 2005, na Venezuela. «Numa visão e num quadro muito amplo, fiquei com a perspectiva de que não somos os únicos jovens a lutar contra o capitalismo e o imperialismo», destacou. Valorizou, de igual forma, a capacidade de «organização» e de «responsabilização» dos sindicatos da CGTP-IN em enviar uma delegação ao Festival, «não só para trazer experiências, mas para ajudarmos a construir um mundo melhor».
De 13 a 21 de Dezembro estes e muitos outros jovens trabalhadores e estudantes vão poder participar em várias iniciativas, nomeadamente em «centros de discussão política» (espaços de debate, conferências, seminários sobre temas de interesse para os jovens), em workshops, no «Tribunal Internacional Anti-Imperialista» (tribunal onde se condenam os crimes do imperialismo), em «reuniões de grupos sociais (encontros de jovens artistas, cientistas, atletas, sindicalistas, entre outros), no «Fórum de Solidariedade» (demonstrações de solidariedade com os povos em luta), na «Feira da Amizade» (stands de delegações e/ou organizações), em «clubes regionais» (espaços onde as delegações podem exibir as tradições do seu país, como a música, a dança, entre outros), em «actividades culturais e desportivas».
Denunciar os ataques em Portugal
Na sua «bagagem» estes jovens vão levar as lutas que se estão a desenrolar por um País melhor, mais democrático e de justiça social. Numa altura em que o povo e a juventude carregam nos ombros o peso de uma crise causada pelos interesses capitalistas, em que vê os seus direitos a ser permanentemente atacados e o seu futuro hipotecado, a juventude portuguesa já demonstrou o seu poder reivindicativo.
A força da juventude foi fundamental para a Revolução de Abril e continua a ser fundamental para transformar o País e a realidade em que vivemos. Assistimos a grandiosas manifestações de estudantes do ensino secundário e superior, de jovens trabalhadores, bem como outras iniciativas em torno de questões de acesso à cultura e ao desporto, do ambiente, entre outras, que demonstram a combatividade dos jovens portugueses.
«O Festival será tanto mais forte quanto mais experiência de luta tiver», frisou Ana Sofia, informando que a JCP propôs um workshop sobre o ensino profissional, «um contributo que queremos dar da realidade portuguesa».
No Tribunal Anti-Imperialista, que se realiza nos dois últimos dias, a JCP vai abordar o ataque aos direitos da juventude em Portugal, nomeadamente os impedimentos às pinturas de murais, às colagens de cartazes e as repressões das lutas nas escolas.
Sobre a temática geral do Festival, Helena Barbosa lembrou que «todas as lutas contra o imperialismo são pela paz». Ou seja, continuou, «quando nós temos os estudantes do ensino secundário a lutar contra os exames nacionais, quando nós temos os estudantes do ensino superior a lutar contra as propinas e o Processo de Bolonha, todos por uma educação pública, gratuita, democrática e de qualidade, quando nós temos os trabalhadores a lutar contra a precariedade, quando lutamos por uma cultura e desporto ao acesso de todos, estamos a lutar contra o imperialismo, estamos a lutar pela paz».
Amplo movimento juvenil
O 17.º Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes vai contar com um amplo movimento juvenil e estudantil à escala internacional. Deverá ainda reflectir, através da participação portuguesa, as aspirações da juventude que em Portugal luta pelos seus direitos, como lutam os jovens de todo o planeta, por um mundo de paz, solidariedade entre os povos, pela democracia, pelo direito à educação, à saúde, ao trabalho, à cultura, ao desporto, enfim, pelos mais fundamentais direitos da juventude.
A organização do Festival em cada país está a cargo de um Comité Nacional Preparatório (CNP), espaço de encontro entre várias associações juvenis que, no seu próprio país, preparam e organizam o Festival. O CNP português tem como objectivo a divulgação e afirmação do Festival junto dos jovens portugueses e tem também a seu encargo a constituição da delegação que irá representar Portugal no Festival e que levará o contributo dos jovens portugueses. Até ao momento, o CNP é constituído pelas seguintes organizações:
•A Fantasia
•Associação Arruaça
•Associação de Designers do Sul
•Associação de Estudantes da Escola Secundária Gonçalves Zarco
•Associação de Estudantes da Escola Secundária Gil Vicente
•Associação de Estudantes da Escola Superior de Artes e Design de Caldas da Rainha
•Associação Fronteiras
•Associação Jovem Valor
•Associação pela Paz e Amizade
•Associação Projecto Ruído
•Associação Recreativa e Cultural de Músicos
•Associação Recreatica de Cultural do Algarve
•Conselho Português para a Paz e Cooperação
•Ecolojovem
•Federação das Associações Juvenis do Distrito do Porto
•Federação dos Sindicatos da Agricultura, Alimentação, Bebidas, Hotelaria e Turismo de Portugal
•Grupo de Etnografia e Folclores da Academia de Coimbra
•Interjovem Distrital de Lisboa/USL
•Interjovem
•Interjovem/Braga
•Interjovem/Porto
•Jovens Ferroviários – Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Sector Ferroviário
•Juventude Comunista Portuguesa
•Movimento Democrático de Mulheres
•Ordem da Cavalaria do Sagrado Portugal
•Os Pioneiros de Portugal
•Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Hotelaria, Turismo, Restaurantes e Similares do Algarve
•SIN-CERA – Grupo de Teatro da Universidade do Algarve
•Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Hotelaria, Turismo, Restaurantes e Similares do Sul
•Sindicato dos Enfermeiros Portugueses
•Teatro Fórum de Moura
•União de Resistentes Antifascistas Portugueses
•União dos Sindicatos de Évora

In: Avante.pt

03 dezembro 2010

Tributação dos dividendos distribuídos por Grupos Económicos e SGPS em 2010

Intervenção de Honório Novo na Assembleia da República

Senhor Presidente
Senhores Deputados
Haja ou não haja crise em Portugal, viva ou não o País com a “ameaça dos mercados”, que os poderosos, os grandes grupos económicos e o sistema financeiro continuam sempre a invocar o interesse nacional para continuar pagar muito pouco ou quase nada dos impostos que poderiam e deveriam pagar.
Vamos hoje demonstrá-lo de novo com este agendamento potestativo.
Foram seis mil milhões de euros de mais-valias, seis mil milhões de euros de lucros obtidos pela PT no passado mês de Junho quando vendeu a sua participação na VIVO, doze anos depois de a ter comprado por pouco mais de mil milhões de euros. Um lucro fabuloso no maior negócio de sempre em Portugal, um dos maiores do mundo em 2010, não pagou até hoje um cêntimo sequer em impostos…
Como é possível toda esta facilidade? Tudo bem simples e na maior das “legalidades”. A participação da PT na VIVO era detida por uma empresa com domicílio fiscal na Holanda, a Brasilcel BV, empresa que pertence à PT, SGPS. Esta rede de relações entre entidades aparentemente diversas mas que na verdade são uma só unidade empresarial, fez com que a empresa com sede na Holanda tenha sido aí isenta de pagar imposto sobre as mais-valias realizadas com a venda da VIVO e, numa fase posterior, que estes lucros possam ter sido integralmente transferidos da sucursal holandesa para a empresa mãe, isto é, para a PT, sempre sem pagar um cêntimo de imposto sobre lucros.
Mas a história deste tipo de total isenção de impostos com a cobertura “legal” de uma legislação fiscal preparada para beneficiar os grandes grupos económicos e, simultaneamente, penalizar quem trabalha ou quem vive das pensões e reformas bem abaixo do salário mínimo, não começou com o caso mais recente da venda da VIVO à Telefónica.
As mesmas ou semelhantes técnicas de planeamento fiscal, usando os “buracos”, as omissões e as disposições permissivas existentes no sistema fiscal em Portugal, permitindo a não tributação de milhares de milhões de euros de rendimentos que deveriam ser tributados, não começou, porém, com este caso mais recente e mediatizado da VIVO. O mesmo sucedera antes em inúmeros casos, seja com a mesma Portugal Telecom, quando há algum tempo vendeu interesses em Marrocos, em que cerca de duzentos milhões de euros de lucros obtidos ficaram limpos de impostos, seja quando o Grupo Amorim entrou na Galp ou na altura em que a SONAE lançou a OPA sobre a PT, sempre a partir de holdings sedeadas na Holanda para não pagarem impostos sobre os lucros vindouros.
Senhor Presidente
Senhores Deputados
Quem, contudo, possa pensar que a rede montada para isentar de tributação este tipo de rendimentos acabou com as transferências do produto das vendas, das sucursais fora do País para as empresas-mãe, desengane-se. A rede prossegue até à distribuição efectiva dos lucros, isto é, dos dividendos das empresas-mãe pelos seus accionistas.
Mais uma vez serve de exemplo – evidentemente não único nem isolado – o caso da PT na venda da VIVO.
Dos seis milhões de euros de lucros realizados em Junho deste ano, a PT vai distribuir cerca de 1500 milhões de euros pelos accionistas, designadamente o BES, a CGD, a Ongoing, o Grupo Visabeira ou a Controlinveste. A legislação fiscal continua, porém, a permitir que estes lucros continuem livres de impostos quando os accionistas que recebem os dividendos sejam Sociedades Gestoras de Participações Sociais, caso de todos aqueles accionistas chamados de referência e da maioria esmagadora dos accionistas da PT. Estão as SGPS, “legalmente e automaticamente” isentas de impostos sobre dividendos para, pasme-se, evitar a dupla tributação económica!...
Maior hipocrisia é de facto impossível para designar um verdadeiro esquema legal de ausência de tributação e de pagamento de impostos da parte de grandes grupos económicos e financeiros organizados em torno das chamadas Sociedades Gestoras de Participações Sociais, que o Governo, aliás, se recusa a tributar.
Foi este objectivo – o da obtenção de enormes mais-valias e de vultuosos dividendos - que fez os accionistas de referência da PT a pressionarem para a venda VIVO.
Desde esse momento se sabia o que pretendia fazer a PT: distribuir dividendos pelos seus accionistas. Isso mesmo foi aliás recentemente confirmado pelo Presidente não executivo da PT, (Henrique Granadeiro), que recordou que desde a venda da Vivo, (em Junho), a PT anunciara que iria distribuir dividendos extraordinários e, igualmente, dizendo que a “política de remuneração dos accionistas tinha sido conversada com a golden share”, isto é, com o Governo.
Ou seja, o Governo, o Primeiro-ministro e o Ministro das Finanças sabiam muito bem, pelo menos desde o início do Verão passado, que a PT iria distribuir dividendos extraordinários aos respectivos accionistas. E sabiam também muito bem – porque sempre se recusaram aceitar alterações à legislação fiscal que inúmeras vezes lhe foram sendo feitas pelo PCP e por outros partidos para tributar as mais-valias de SGPS em IRS e também em IRC, mormente as realizadas por SGPS e por outras entidades.
Senhor Presidente
Senhores Deputados
O Governo anunciou no final do Verão ter intenções de, (finalmente), alterar algumas normas na tributação das Sociedades Gestoras de Participações Sociais. Esta intenção foi anunciada pelo Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais em Setembro, (ainda bem antes da entrada do Orçamento de Estado), o que faria prever que o Governo avançaria de imediato, ainda em 2010, com propostas de alteração do actual quadro fiscal privilegiado para as SGPS.
Só que, apesar das intenções anunciadas, o Governo não tomou qualquer iniciativa legislativa passível de produzir efeitos ainda em 2010. Só apresentou alterações na proposta de Orçamento do Estado, permitindo, ainda uma vez mais, a manutenção do estatuto privilegiado das SGPS no ano em curso.
Este esquecimento do Governo permite que os accionistas dos grandes grupos económicos e financeiros organizados em SGPS continuem a beneficiar, mais um ano, da isenção plena de tributação dos dividendos que lhes são distribuídos.
Pior: perante o anúncio, feito com dois meses e meio de antecedência (em 15 de Outubro, com a entrada do Orçamento), que a intenção do Governo passava afinal por tributar os dividendos recebidos por SGPS só a partir de 1 de Janeiro de 2011, os grandes grupos económicos e financeiros “desataram” a anunciar a antecipação da distribuição de dividendos, incluindo os extraordinários, para o ano corrente, ainda que, não fosse este conveniente esquecimento do Governo e este amigo pré-aviso de alteração da legislação fiscal, tais dividendos só fossem normalmente distribuídos em Abril/Maio do próximo ano.
Foi o que fez a PT, anunciando a antecipação de cerca de 60% dos dividendos extraordinários resultantes da venda da VIVO, cerca de 900 milhões do total de 1500 milhões que irão ser distribuídos. Uma verdadeira “taluda de Natal” para os seus accionistas, para Ricardo Salgado e o Grupo BES, para Faria de Oliveira e a CGD, para Nuno Vasconcelos e a Ongoing, para Paulo Varela e o Grupo Visabeira, para Joaquim Oliveira e a Controlinveste, entre muitos outros.
Foi também o que fizeram a Portucel e a Jerónimo Martins que já anunciaram também a antecipação para 2010 da distribuição dos dividendos que normalmente só iriam ser entregues em 2011, com o objectivo claro e único de fugir à tributação que teriam que passar a suportar em 2011, mas de que continuarão a estar isentos se anteciparem a distribuição desses dividendos para 2010.
A expressão “taluda de Natal” traduz bem o que o Governo quer oferecer aos “pobres” accionistas de todos estes e muitos outros grupos financeiros que se preparam para fazer o mesmo “dentro da maior legalidade”, (para parafrasear Paulo Azevedo, presidente da SONAE), numa ideia também perfilhada por Teixeira dos Santos, ministro das Finanças do Governo do PS.
Se nada for feito – e o Governo nada quer fazer, porque prefere aumentar o IVA para 23%, cortar no abono de família, no subsídio de desemprego ou nas comparticipações dos remédios – muitos dos dividendos a distribuir em 2011 vão ser antecipados para 201O e recebidos com total isenção de impostos.
São muitas centenas de milhões de euros de receitas fiscais que se irão perder. Só no caso da PT poderão ser, no mínimo, cerca de 200 milhões de euros de receitas fiscais que o Governo poderia utilizar para não cortar o abono de família a muitas dezenas de milhares de famílias em Portugal
Senhor Presidente
Senhores Deputados
“Penso que causaria um dano na reputação da PT permitir transmitir a ideia de que pretende fugir ao pagamento de impostos em 2011”, afirmou o Ministro das Finanças a propósito do anúncio da antecipação para 2010 na distribuição de dividendos extraordinários.
“A PT certamente fará a distribuição de dividendos por forma a pagar impostos, contribuindo para o esforço colectivos que estamos a fazer”, disse o Primeiro-ministro numa entrevista à TVI.
“Em matéria tributária, a Assembleia da República é soberana”, disse ainda Teixeira dos Santos no debate orçamental, a propósito desta iniciativa legislativa do PCP, que hoje discutimos, e que pretende alterar a legislação fiscal no mesmo exacto sentido que o Governo propõe que seja feito em 2011, e que foi aliás já aprovado no debate orçamental concluído na passada semana, propondo-se fazer que tais alterações produzam efeitos já em 2010.
Se os grupos económicos e financeiros querem – ao contrário do que, aparentemente, desejava o Primeiro-ministro na entrevista da TVI e contrariando os apelos à ética e à moral feitos pelo Ministro das Finanças – antecipar a distribuição de dividendos para fugir legalmente ao pagamento de impostos que teriam que pagar em 2011, é altura do Poder Político não pactuar com manobras dilatórias desta natureza e dizer se está ou não a mando do poder económico ou se, pelo contrário, e como manda a Constituição da República, é o poder económico quem deve submeter-se à vontade do poder político.
É em síntese isto que está em jogo com a tributação, ou não, dos dividendos recebidos pelas SGPS e a antecipação da respectiva distribuição para 2010.
Estaremos abertos a todas as soluções técnicas para tributar de forma segura estes dividendos já em 2010. Apresentámos e divulgamos mesmo antes deste debate algumas soluções que podem ser ainda alteradas e/ou melhoradas. Partindo do que em boa parte já está previsto no Código do IRC, adoptamos os seus princípios para os aplicar de forma específica a todos os sujeitos que recebam dividendos distribuídos por SGPS e, evidentemente, incluindo nestes procedimentos as SGPS com sede nacional ou domicílio de conveniência no estrangeiros, que sejam também beneficiárias e que, sem isso, ficariam totalmente isentas em 2010. Esperamos também (e ansiosamente) as propostas alternativas que foram sendo anunciadas por deputados do PS para permitir uma tributação segura e eficiente, já em 2010, dos dividendos distribuídos antecipadamente. Não as conhecemos ainda, não obstante ter sido dito que seriam incluídas no Orçamento para 2011 ou fora dele.
O importante é ver até que ponto é que a Assembleia da República é de facto soberana em matéria fiscal ou, se, pelo contrário, se limita a replicar as indicações expressas ou implícitas do Governo num outro sentido.
O importante é ver até que ponto as declarações de indignação do Governo, do ministro das Finanças e do Primeiro-ministro sobre a antecipação na distribuição de dividendos são de facto genuínas.
O importante, da nossa parte, é verificar se é possível dar um passo no sentido da equidade fiscal ou se, pelo contrário, se dará mais um passo para confirmar que em Portugal os poderosos continuarão a ser ferreamente protegidos por um poder político submisso e obediente.
Disse
In: pcp.pt

PS, PSD e CDS rejeitaram a proposta do PCP que permitia antecipar já para 2010, a Tributação de dividendos. Bernardino Soares afirmou que votar contra este projecto do PCP significa dar ao Grupo Espírito Santo, à Ongoing e a outros os milhões que PS e PSD retiraram com o orçamento do Estado aos salários, às reformas ou ao abono de família.

02 dezembro 2010

Irlandeses protestam contra novas medidas

A pão e água
Contra a sangria imparável do povo trabalhador, os sindicatos irlandeses convocaram um protesto que teve uma adesão massiva. Mais de 150 mil pessoas, segundo os organizadores, desfilaram no sábado, 28, na capital do país.

Poucos dias após a intervenção do Fundo Monetário Internacional (FMI) e da apresentação de mais um intolerável pacote de medidas de austeridade, o terceiro desde o rebentamento da crise em 2008, o povo irlandês saiu à rua para realizar uma das maiores acções de protesto dos últimos anos.
Os motivos são conhecidos. À generalidade da população já duramente sacrificada, o governo quer impor nos próximos quatros anos um severo programa que prevê arrecadar 15 mil milhões de euros. Destes, 10 mil milhões resultam em cortes cegos nas despesas, no essencial sociais, e os restantes cinco mil milhões de aumentos de impostos.
Assim, com a agravante de 40 por cento deste plano draconiano, ou seja seis mil milhões de euros, terem de ser realizados no decorrer do próximo ano, Dublin anunciou, dia 24, que pretende reduzir as prestações familiares e pensões em dez por cento e aumentar a idade da reforma para os 68 anos. Em paralelo, 24 750 empregos públicos serão extintos, regressando o efectivo do Estado aos níveis de 2005.
As despesas de educação e de saúde e os apoios à agricultura sofrerão um corte de três mil milhões de euros. Por último, mas não menos escandalosa, é a redução do salário mínimo nacional, cujo valor horário deverá passar de 8,65 para 7,65 euros.
Menos salários e mais impostos
Do lado das receitas suplementares, o imposto sobre o valor acrescentado (IVA) irá aumentar para 23 por cento, o que se traduz numa cobrança adicional de 620 milhões de euros. Soma-se um novo imposto sobre a água, e um aumento geral das propinas escolares.
Em contrapartida, o governo do conservador Brian Cowen não quer tocar no imposto sobre os lucros das empresas que é mantido, na proposta orçamental, nos módicos 12,5 por cento, uma das mais baixas taxas fiscais da União Europeia, onde este imposto representa em média 24,7 por cento.
Dado que tanto a Alemanha como Paris vinham pressionando para que esta taxa fosse aumentada, o governo irlandês apressou-se a indicar que se trata de «uma pedra angular da nossa política económica voltada para a livre empresa». Na verdade, mostrando quem manda realmente no país, algumas multinacionais avisaram nas últimas semanas que qualquer agravamento da tributação dos seus lucros poderia significar a deslocalização das respectivas unidades.
O espectro da falência
Dublin sonha em reduzir o défice público para os três por cento em 2014. (Recorde-se que este ano o buraco nas contas do Estado representa 32 por cento do PIB, valor obtido depois da contabilização dos cerca de 50 mil milhões, um terço do produto, injectados no sistema bancário falido). Mas para isso, a economia teria de crescer 2,75 por cento já no próximo ano.
Ora, depois do colapso da economia em 2009 (-7%) e de um cenário pouco animador para este ano (14% de desempregados), é improvável que as tradicionais soluções para salvar os lucros do capital possam conduzir a uma recuperação da economia.
Tanto mais que todo o esforço orçamental parece ser ínfimo quando comparado com os montantes já despejados na banca e que terão de continuar para evitar a falência. À «nacionalização» dos prejuízos do Anglo Irish Bank logo em 2009, seguiu-se a intervenção estatal no Allied Irish Banks, que revelou, na semana passada, ter registado uma quebra nos depósitos de 13 mil milhões de euros, a que se soma uma queda em bolsa de 70 por cento desde o início do ano.
A falência ameaça igualmente o Bank of Ireland, devendo passar muito em breve para a esfera pública, uma vez que já perdeu 90 por cento do seu valor em bolsa desde o início da crise.
Face ao descalabro da banca e prevendo os inevitáveis efeitos recessivos das drásticas medidas de austeridade, que já estão a reduzir à indigência muitos milhares de irlandeses, o anúncio da «ajuda» do FMI e da UE no montante de 85 mil milhões de euros (35 milhões dos quais se destinam à banca), não contribuíram em nada para acalmar os credores. Na mesma semana, estes elevaram a taxa de juro de novos empréstimos para nove por cento.
A era do capitalismo está a chegar ao fim, e ante o povo irlandês coloca-se a tarefa cada vez mais urgente de o suprimir, sob pena de desaparecer do mapa. Como gritaram os manifestantes, no sábado, «os cortes orçamentais salvam a banca, não a Irlanda».
In: Avante.pt