“Para o País a República, para Alcanena o Concelho”, foi o mote para unir os alcanenenses nos primeiros anos do século XX. Em 8 de Maio de 1914, pela lei Número 2 156, foi criado o Concelho de Alcanena, integrando as freguesias de Alcanena, Bugalhos, Minde e Monsanto, até aí pertencentes ao concelho de Torres Novas, e Louriceira e Malhou, então do concelho de Santarém.
À frente do movimento que levou à criação do concelho estava um ilustre minderico, Justino Guedes, que fez vida e fortuna em Lisboa, mas que, na hora própria, lutou pela concretização do sonho de muitos, de construção do Concelho.
Falar na fundação do concelho, é falar na implantação da República. Por isso, importa recordar que no tempo da ditadura fascista, sempre se realizaram as comemorações do 5 de Outubro, as quais faziam chegar a Alcanena muitos forasteiros; uns vinham assistir às comemorações, outros vinham vigiar o que se passava (nomeadamente agentes da PIDE, que acorriam em elevado número a Alcanena). Apesar da repressão que se abatia nessa época sobre todo o país, nunca o regime conseguiu evitar que o povo de Alcanena comemorasse condignamente a implantação da República. Dada a elevada concentração operária, com uma significativa influência comunista e elevada consciência de classe, o 5 de Outubro transformava-se também numa jornada de protesto contra o regime. Pelo seu simbolismo, é com alguma tristeza que vejo hoje essas comemorações não honrarem devidamente o seu passado. É necessário e urgente criar condições para que os que viveram essa época (e que cada vez são menos) transmitam às gerações mais novas os valores do 5 de Outubro em Alcanena.
No plano económico, o concelho de Alcanena foi durante várias décadas o concelho mais industrializado do distrito de Santarém, se bem que baseado em actividades praticamente exclusivas – os curtumes em Alcanena, Vila Moreira, Monsanto, Gouxaria, e as malhas em Minde. Dada a sua boa localização geográfica, outras actividades procuraram aqui implementar-se, mas desde os anos cinquenta esbarraram na oposição de várias gerações de poderes económicos a nível concelhio, que não queriam perder o monopólio da ocupação da mão de obra local. Sempre ouvi dizer (e os mais antigos devem recordar-se) que os CTT pretenderam implantar em Alcanena (salvo erro nos anos 50) a Central Telefónica Regional, o que não se concretizou. Depois desse episódio, outros exemplos poderiam ser referidos, nomeadamente nos anos 80, em que voltou a haver actividades económicas que não se conseguiram implantar no concelho, por terem esbarrado nos poderes locais. Não se aproveitaram oportunidades, o concelho não se desenvolveu. Outros as aproveitaram, e desenvolveram-se.
Com a globalização, em que os interesses dos pequenos países com economias baseadas em mão de obra barata (caso de Portugal) não foram devidamente acautelados no seio da Organização Mundial do Comércio, assistiu-se à chegada de uma fortíssima concorrência de produtos do Extremo Oriente, produzidos em condições sociais e ambientais condenáveis (exploração de mão-de-obra infantil, ausência de tratamento de efluentes), que tem vindo a fazer com que o concelho de Alcanena em cada dia que passa perca poder económico (que se encontra espelhada nos mais recentes indicadores da produção industrial da indústria do couro e dos produtos do couro, que em Fevereiro de 2010 apresentava o índice 56,8 – ou seja, quase metade do valor de base 100 no ano 2005).
Os problemas derivados da concorrência feroz, a nível internacional, nalguns casos complementados com má gestão, conduziram ao encerramento de algumas das principais empresas do concelho, levando ao desemprego muitos trabalhadores. Sem esperança de melhores dias, muitos vêm-se coagidos a procurar noutros locais o seu ganha-pão. O concelho de Alcanena está a perder população e poder económico, necessitando urgentemente de diversificar as actividades económicas.
As boas acessibilidades não têm sido adequadamente aproveitadas, pese embora a existente de um importante entreposto comercial próximo do nó da auto-estrada, como exemplar, diria quase único, do que poderia aí ser feito. O fraco peso político do concelho de Alcanena reflectiu-se no atraso na execução das obras de ligação do nó da auto-estrada a Alcanena, que demoraram 15 anos, ao contrário do que sucedeu com a A23, o que teve como consequência directa a implantação junto a Torres Novas de cerca de 10 superfícies comerciais de grande envergadura, precisamente implantadas nesse período. Podemos daqui concluir que sem boas acessibilidades não há desenvolvimento. Deve-se também incentivar a implantação de actividades produtivas, nomeadamente oferecendo condições atractivas (solos baratos, infra-estruturas, mão-de-obra qualificada).
Qual é o panorama com que nos deparamos? Um concelho a atravessar uma grave crise económica, uma Câmara Municipal com pouca capacidade de intervenção, por carência de fundos e de ideias novas, obras em curso que não representam verdadeiras mais valias para o Concelho, mas que são um importante sorvedouro de fundos autárquicos, máquina burocrática da Câmara muito pesada, mau panorama ambiental, com uma grande frequência de maus cheiros, e zonas sensíveis do ponto de vista ambiental a servirem de lixeiras para produtos tóxicos, estradas em péssimo estado: Alcanena – Monsanto; Alcanena – Malhou; Alcanena – Raposeira; Serra – Moitas; Minde – Vale Alto; Chã de Cima; Covão do Feto;e outras (difícil é encontrar uma estrada em bom estado).
Quando é necessário investir no desenvolvimento económico do concelho, vai-se gastar muito dinheiro num Museu? Ou numa Zona Industrial, numa localidade em que há dezenas de fábricas fechadas? Tanto quanto seja possível evitá-lo, respondemos NÃO !!!
O que o Concelho de Alcanena precisa é de perspectivar o futuro, ter uma visão estratégica, que lhe permita dar a volta à difícil situação em que agora se encontra.
No plano político, a CDU entende que é necessário o empenhamento activo de todas as forças políticas, nomeadamente do PS, como força maioritária, numa política de desenvolvimento do concelho. Igualmente importante é que haja maior cooperação entre os diferentes órgãos da autarquia, pois a experiência recente mostra que existem deficiências na articulação da Câmara com a Assembleia Municipal.
Em termos estratégicos, a CDU entende que o nosso concelho necessita de:
Diversificar as actividades económicas, fornecendo incentivos à fixação de novas empresas, e aprofundando os laços económicos regionais;
Apostar na qualidade e na inovação das actividades em que existe know-how, nomeadamente nos seus sectores tradicionais;
Proteger da poluição os importantes recursos hídricos do concelho;
Apostar no desenvolvimento turístico do concelho, divulgando as suas belezas naturais, os seus produtos e as suas tradições.
Além disso, importa tomar medidas tendentes a:
Melhorar as acessibilidades entre as diferentes localidades do concelho;
Fixar jovens, estancando o envelhecimento da população;
Melhorar o funcionamento das ETAR;
Ter uma autarquia actuante, na rápida resolução dos problemas existentes;
Ter agentes económicos do concelho que invistam nas suas terras;
Preservar e divulgar a gastronomia da nossa região;
Preservar a recolha de tradições etnográficas que tem vindo a ser feita pelos Ranchos Folclóricos do concelho;
Manter e aprofundar a aposta que tem sido feita na promoção do desporto escolar e associativo.
Quando se comemoram os noventa e seis anos da fundação do Concelho, estamos convictos que uma política que tenha em conta esta estratégia e estas medidas irá permitir melhorar as condições de vida da população, promovendo o desenvolvimento do nosso concelho e honrando, desta forma, aqueles que se lutaram pela criação do Concelho de Alcanena.
muito bom parabens
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