Proletários de todos os Países, uni-vos.

26 fevereiro 2011

90º Aniversário PCP - Resolução do Comité Central

I
Em 6 de Março de 2011 o Partido Comunista Português comemora o seu 90º aniversário. São 90 anos de luta heróica ao serviço da classe operária e dos trabalhadores, do povo e do país.
São nove décadas de vida e luta de um partido que, orgulhoso da sua história, aprendendo com a sua própria experiência, firme e determinado no presente, assume com energia, audácia e confiança as exigências do futuro.
Um grande partido nacional, profundamente ligado à vida dos trabalhadores e do povo, que inscreveu ao longo destes 90 anos no seu projecto e acção prática a luta pela liberdade, pela democracia e pelo socialismo.
Um Partido que, longe de sucumbir como os seus inimigos desejariam e tantas vezes anunciaram, se afirma mais forte, mais necessário, mais determinado a prosseguir o seu caminho com os trabalhadores e o povo pelo progresso e justiça social, pela soberania e independência nacionais.
Um Partido que é continuador legítimo das melhores tradições da luta e das realizações progressistas e revolucionárias dos trabalhadores e do povo português e que se afirma como parte inseparável do futuro democrático e socialista de Portugal.
Um Partido que se afirma na luta presente, com a força da sua história e com os olhos postos no futuro, para a concretização plena dos direitos do povo português e do projecto de emancipação social e humana, que integra sonhos e aspirações milenares de liberdade e de justiça.
II
A criação do PCP, em 1921, foi expressão de uma necessidade histórica da classe operária portuguesa, resultado da evolução do movimento operário. Foi a concretização do instrumento indispensável às aspirações de uma classe decidida a transformar a sociedade. E marcou o início de uma nova etapa do movimento operário em Portugal e de uma nova fase da vida nacional.
Foi num clima de ascenso revolucionário, resultante das grandes lutas travadas pelos trabalhadores portugueses e do impacto da Revolução Socialista de Outubro, que foi fundado o Partido Comunista Português.
Não foram fáceis os primeiros anos de vida do PCP. A criação de um partido comunista em Portugal implicou uma exigente batalha política e ideológica contra a influência e contra concepções tácticas e práticas oportunistas de outras forças políticas, designadamente socialistas e anarquistas, à altura existentes, que exerciam forte influência no seio do movimento operário. Mas também porque desde o primeiro dia enfrentou a repressão da Primeira República e logo a partir de 1926, com o golpe militar de 28 de Maio que conduziu à instauração da ditadura fascista, o Partido, com apenas cinco anos de existência, foi proibido e perseguido, e forçado a desenvolver a sua actividade nas condições da mais severa clandestinidade e brutal repressão, condições para as quais não estava naturalmente preparado.
É a partir de 1929, com a Conferência de Abril e sob a direcção de Bento Gonçalves, aí designado Secretário-geral, que o Partido, virando-se audaciosamente para a classe operária, forjando uma organização capaz de actuar na clandestinidade, cria uma imprensa clandestina – o «Avante!» e «O Militante» –, organiza-se segundo a concepção leninista de um partido de novo tipo e inicia verdadeiramente uma actividade de massas, traduzida num vasto conjunto de importantes lutas.
III
O prestígio e a importância política do PCP só foram possíveis com os avanços decorrentes da reorganização de 1940-1941 e dos III e IV Congressos, momentos decisivos na definição da sua matriz de partido leninista. Foram avanços fundamentais para garantir a continuidade de acção e direcção do Partido e defender da repressão fascista os quadros e a imprensa do Partido. Para o enraizamento na classe operária e nos trabalhadores, para uma forte organização, para estabelecer na acção uma sólida aliança da classe operária com o campesinato e outras camadas antimonopolistas, num processo que se traduziu no reforço do PCP e na sua transformação no partido da classe operária e num grande partido nacional.
O prestígio e a importância política do PCP só foram possíveis com a rigorosa definição científica dos seus objectivos, da sua táctica e da sua linha política, forjadas ao longo dos anos e traduzidas nos seus Congressos clandestinos, designadamente, em 1965, no VI Congresso e no Programa para a Revolução Democrática e Nacional aí aprovado, cujas orientações, rumo à vitória, haveriam de abrir caminho ao derrubamento do fascismo, à conquista das liberdades e à concretização da Revolução de Abril de 1974.
O prestígio e a importância política do PCP só foram possíveis com a concretização do seu papel de sempre no desenvolvimento da luta e acção de massas. Foram as importantes experiências das vagas de greves e lutas políticas dos anos 40, 50 e 60 e inícios dos anos 70 do século XX que, confirmando a justeza da sua linha política e as grandes capacidades revolucionárias da classe operária industrial e agrícola e das massas populares – e em contraste com as tendências para o compromisso com o fascismo, o carácter aventureiro, oportunista e instável de sectores da pequena e média burguesia – fizeram ruir os alicerces do fascismo e contribuíram decisivamente para rasgar caminho à Revolução de Abril.
O prestígio e a importância do PCP só foram possíveis com a sua inequívoca e consequente política de unidade ao longo destes 90 anos. Lutando pela unidade da classe operária e de todos os trabalhadores, o PCP foi o criador das Comissões de Unidade nas empresas e praças de jorna, no desenvolvimento de uma notável actividade nos Sindicatos e na constituição, dinamização e orientação de organizações democráticas unitárias. O desenvolvimento orgânico do movimento democrático, o reforço da sua capacidade de acção só foram possíveis com a contribuição do PCP, salvaguardando sempre a sua independência de classe e decisão, sem ceder perante pressões de inimigos, nem de aliados.
O prestígio e a importância política do PCP só foram possíveis com a sua ideologia, o marxismo-leninismo, teoria revolucionária, por natureza anti-dogmática, que constitui a base teórica do Partido permanentemente enriquecida pela sua intervenção e experiência próprias e pela experiência do movimento comunista e revolucionário mundial.
O prestígio e a importância política do PCP só foram possíveis com os seus princípios orgânicos, confirmados na prática, no seu funcionamento interno e consagrados nos Estatutos. Princípios que decorrem do desenvolvimento criativo do centralismo democrático de onde ressaltam a prática da direcção colectiva e do trabalho colectivo, da crítica e autocrítica, da combinação dialéctica de uma profunda democracia interna, de uma única direcção central e de uma única orientação geral. Um funcionamento que foi e será decisivo para assegurar e reforçar a unidade do Partido, a sua coesão política e ideológica, e combater com firmeza tendências como o oportunismo e o fraccionismo, contrárias aos interesses do Partido.
O prestígio e a importância política do PCP só foram possíveis com uma profunda identificação do Partido com os interesses nacionais, defendendo intransigentemente a soberania e independência do país, expressa na dimensão patriótica da sua acção de sempre. A luta pela libertação do país do jugo do imperialismo – nos planos económico, político, ideológico e militar – foi e é inseparável da acção do PCP ao longo de décadas contra a dominação do país pelas grandes potências e a subserviência de hoje perante a NATO e a União Europeia.
O prestígio e a importância política que o PCP tem, são inseparáveis das suas firmes posições internacionalistas. Contribuindo sempre para o reforço do movimento comunista internacional, o PCP sempre assumiu os princípios do internacionalismo proletário. Da sua solidariedade activa com as forças revolucionárias e os povos em luta de todo o mundo, como pode ser comprovada pelo seu total apoio aos movimentos de libertação e aos povos das colónias portuguesas na luta pela sua independência e contra a criminosa guerra colonial.
O prestígio e a importância política do PCP advêm da sua intervenção nos anos mais longínquos da sua história, confirmados nas exigentes e decisivas lutas da actualidade. A sua acção, longe de se esgotar no contributo determinante que deu para o derrubamento do fascismo, foi também decisiva para as grandes conquistas da Revolução de Abril. O PCP foi o grande Partido da revolução, das liberdades e direitos dos trabalhadores e do povo português, da reforma agrária, das nacionalizações, do controlo operário, do poder local democrático – do regime democrático consagrado na Constituição de Abril. O PCP, organizando e dirigindo a luta das massas populares, foi e é o mais firme defensor dessas conquistas e do regime democrático face à ofensiva da contra-revolução.
O prestígio e a importância política do PCP só foram possíveis com a sua capacidade de aprender pela experiência da luta de classes e de encontrar, em cada momento, a resposta mais adequada e a acção mais capaz para enfrentar e derrotar as manobras e a política de direita, reaccionária, e fazer avançar a luta dos trabalhadores e do povo.
O prestígio e a importância política do PCP só foram possíveis com a intervenção do Partido para a definição de uma política cultural democrática que assegure o direito à criação e fruição culturais e que constituiu um contributo decisivo para a criação de comportamentos e mentalidades no povo português inspirados por valores democráticos e progressistas. Uma intervenção para a qual os intelectuais comunistas assumiram e assumem um papel decisivo.
O prestígio e a importância política do PCP só foram possíveis com a sua profunda identificação com os sonhos e as aspirações juvenis, inseparáveis do seu ideal de liberdade, justiça, paz, solidariedade e fraternidade, e que fazem do PCP o partido da juventude. Realidade que se expressa também na actividade das organizações de jovens comunistas ao longo da sua história, que tiveram um papel decisivo na luta da juventude, e cuja legítima herdeira é a Juventude Comunista Portuguesa.
O prestígio e a importância política que o Partido tem hoje, a sua efectiva capacidade de direcção revolucionária, seriam impossíveis sem uma profunda e sólida ligação às massas, condição necessária para conhecer e intervir na realidade concreta, para definir e acertar orientações, para dirigir com êxito a luta e contribuir para a unidade dos trabalhadores e do povo.
O prestígio e a importância política do PCP só foram possíveis com os seus militantes, com os seus quadros. Com o sacrifício e abnegação dos seus heróis caídos na luta, com os seus obreiros, com os seus revolucionários profissionais, com milhares de camaradas que ao longo de décadas enfrentaram a repressão, as perseguições, as prisões, as torturas, a própria morte. Com uma intensa e dedicada militância comunista, suporte de uma excepcional intervenção ao longo de décadas e que se projecta hoje, na vitalidade e força do PCP.
Quadros – homens, mulheres e jovens – que ao longo destes 90 anos foram forjados na luta. Quadros comunistas de grande dedicação ao Partido, à classe operária, ao povo, intransigentes perante o inimigo, dando provas de elevados princípios da moral comunista. Quadros que, assumindo o marxismo-leninismo, constituíram o cimento da base sólida sobre a qual se construiu, desenvolveu e desenvolve o Partido Comunista Português.
De todos eles é justo destacar o camarada Álvaro Cunhal, o seu percurso e contribuição para a luta, as marcas indeléveis que como organizador e dirigente gravou na vida do colectivo partidário, a obra teórica que deixou e que constituem um exemplo inspirador para o presente e para o futuro da luta dos comunistas, dos jovens, dos trabalhadores e dos povos.
O PCP, vanguarda da luta revolucionária do povo português pelo pão, pelo trabalho, pela liberdade, pela democracia, pela paz, pelo socialismo e pelo comunismo, ao assinalar o seu 90º aniversário reafirma a sua determinação de assumir com honra o seu passado e a herança revolucionária de 90 anos de luta projectando-a no presente e no futuro, afirmando com coragem, firmeza e audácia as suas convicções, princípios, política e projecto, de conteúdo profundamente humanista e constitutivos do seu ideal – o ideal comunista.
IV
O PCP enfrenta com determinação e coragem os problemas, complexidades e desafios do presente – num tempo marcado por uma agudização da luta de classes e pela mais profunda crise do capitalismo desde a Grande Depressão – uma crise estrutural e sistémica, cuja profundidade e extensão ainda não se revelou na sua totalidade, e que, tendo origem nas insanáveis contradições e na natureza exploradora e opressora do próprio capitalismo, está a ser utilizada para agravar a exploração dos trabalhadores, aprofundar a concentração e acumulação de capital, impor retrocessos civilizacionais aos trabalhadores e aos povos de todo o mundo.
Reflectem-se ainda, na situação actual, as dramáticas consequências do desaparecimento do socialismo na URSS e nos países do Leste da Europa. Enfrentamos o desemprego em massa, a destruição de capacidade produtiva, uma violenta ofensiva no plano dos direitos económicos, sociais e laborais, a destruição de bens ambientais, o avanço de concepções e práticas obscurantistas, antidemocráticas e mesmo fascizantes, o recrudescimento da ofensiva militarista e agressiva do imperialismo. Um mundo mais injusto, mais perigoso e menos democrático.
Ofensiva das classes dominantes que é acompanhada pela intensificação de uma colossal campanha ideológica destinada a legitimar a exploração e opressão capitalistas e a perpetuar o sistema. Poderosos meios mediáticos ao serviço do grande capital difundem à escala de massas a ideia da “inevitabilidade” destas políticas, da “inutilidade” da luta e da ausência de uma verdadeira alternativa. Desenvolvem igualmente uma intensa operação visando a criminalização da luta e do ideal comunista, aprofundando o revisionismo histórico, procurando retirar do horizonte dos trabalhadores e dos povos a perspectiva de uma nova forma de organização da sociedade, a sociedade socialista e comunista.
Mas é a própria vida que se encarrega de demonstrar todos os dias que o capitalismo não só não resolve como agrava todos os problemas da humanidade. A sua história está marcada pela guerra, pelos crimes contra a humanidade, pelo sofrimento de milhões de seres humanos, pela irracionalidade económica e destruição de importantes recursos naturais. O capitalismo recorreu e recorre ao fascismo, ao terrorismo de Estado, ao colonialismo e neocolonialismo sempre que os seus interesses são postos em causa. O capitalismo mantém e aprofunda a sua natureza exploradora e opressora, não podendo resolver nenhuma das suas contradições essenciais. Um sistema cuja superação revolucionária é urgente e indispensável para não colocar em risco a sobrevivência da própria humanidade.
É da própria realidade do país e do mundo, da avaliação concreta do sistema capitalista, do longo trajecto de luta de milhões de seres humanos contra a exploração, das experiências históricas e revolucionárias da construção de uma sociedade nova, que emerge com grande actualidade a necessidade do socialismo como alternativa ao capitalismo, num percurso necessariamente exigente e complexo, mas que se afirma no presente como futuro da humanidade.
V
No virar da primeira década do século XXI, Portugal é um país cada vez mais injusto, mais desigual, mais dependente e menos democrático. Uma situação que, reflectindo uma fase adiantada da contra-revolução, é inseparável de mais de três décadas de política de direita executada por PS, PSD e CDS ao serviço dos grupos monopolistas e latifundiários e que é convergente com o processo de integração capitalista da União Europeia que decorre há 25 anos.
A liquidação de importantes conquistas de Abril, a política de abdicação nacional face aos interesses do grande capital estão na base do progressivo agravamento da situação nacional – crise, desemprego, liquidação do aparelho produtivo, baixos salários, injustiças, corrupção, degradação da vida democrática – e de um processo de reconstituição do capitalismo monopolista e de progressiva mutilação e empobrecimento do regime democrático.
Os trabalhadores e o povo português enfrentam nesta fase da vida nacional aquela que é, pela sua intensidade e dimensão, a maior ofensiva contra os seus direitos desde o período do fascismo. Uma ofensiva que visa impor uma situação qualitativamente nova na correlação de forças entre capital e trabalho. Ataque ao emprego e aos salários, precariedade, agravamento dos preços, destruição de serviços públicos, privatizações, eliminação de importantes direitos e conquistas sociais, desperdício e delapidação de recursos nacionais, limitações aos direitos e liberdades democráticas, marcam a natureza de classe da ofensiva em curso.
Uma ofensiva que só não atinge maiores proporções porque enfrenta a combatividade e a determinação dos trabalhadores e do povo português que contra ela resistem e lutam. O desenvolvimento da luta e da acção de massas, em particular do movimento operário a partir das suas organizações de classe – com um papel essencial da CGTP-IN – confirma-se como um poderoso e decisivo instrumento, necessário para travar os objectivos do governo e do capital, e abrir caminho a uma outra política ao serviço dos interesses dos trabalhadores, do povo e do país.
É no quadro deste rumo de desastre nacional imposto ao país, que o PCP luta e intervém. Cumprindo o seu papel, o Partido Comunista Português é uma grande força nacional, profundamente enraizada nos trabalhadores e no povo, um partido necessário e insubstituível na luta pela ruptura com a política de direita, por uma profunda mudança no país.
O PCP assinala os seus 90 anos numa fase em que o desenvolvimento da luta de massas, marcado por importantes acções de luta – com destaque para a Greve Geral de 24 de Novembro de 2010 – dá expressão à indignação e ao protesto contra a política de direita. O PCP assume-se como uma força determinante para o prosseguimento, a intensificação e o alargamento da luta, com a intervenção combativa e empenhada dos trabalhadores, da juventude, dos reformados, das mulheres, dos agricultores e pequenos empresários, para a sua unidade e intervenção colectiva, para a sua convergência numa vasta frente social de luta que concretize a exigência de uma mudança na vida do país.
Num momento em que PS, PSD e CDS tentam aprofundar o rumo de desastre nacional que conduziu o país à actual situação, a luta por uma ruptura e mudança na vida nacional que afirme uma outra política, patriótica e de esquerda, e por uma solução política com um governo capaz de a concretizar, constitui um elemento decisivo da actual fase do país, a única e verdadeira alternativa que se coloca ao nosso povo.
Uma outra política que, rompendo com o rumo de integração capitalista da União Europeia e com a política de subordinação aos interesses dos grupos económicos, concretize, num quadro de afirmação da soberania e independência nacionais presentes na Constituição da República, anseios fundamentais dos trabalhadores e do povo: o aumento dos salários e pensões e a melhoria das condições de vida da população; a defesa e desenvolvimento da produção nacional; o controlo pelo Estado dos sectores básicos e estratégicos da nossa economia; a concretização de uma nova reforma agrária que liquide a propriedade latifundiária nos campos do sul; o reforço do investimento e dos serviços públicos na saúde, educação e segurança social; uma justa reforma do sistema fiscal que tribute efectivamente o grande capital; uma política económica e monetária independente e soberana; uma política de paz e cooperação com todos os povos do mundo.
Uma ruptura e uma mudança na vida do país que estará tanto mais próxima quanto maior for o reforço do Partido e quanto mais ampla e combativa for a luta de massas. Uma ruptura e uma mudança que, afirmando os valores e os ideais de Abril, projecte a concretização de uma Democracia Avançada, tal como propõe o PCP no seu Programa. Uma democracia simultaneamente política, económica, social e cultural, rumo ao socialismo e ao comunismo.
VI
As comemorações do 90º aniversário do PCP, que decorrerão por todo o país ao longo deste ano, constituem um momento incontornável na vida política nacional. Uma afirmação clara e combativa da determinação do colectivo partidário para prosseguir a luta pela liberdade, pela democracia, pelo socialismo, sejam quais forem as circunstâncias que a vida venha a impor.
O Comité Central do PCP apela aos militantes e organizações do Partido para que façam destas comemorações um momento alto do reforço da organização partidária em todas as suas dimensões, dando continuidade à acção “Avante! Por um PCP mais forte”, designadamente na valorização do «Avante!» quando se assinalam 80 anos da sua existência e 70 da sua publicação ininterrupta. Um reforço que é inseparável da afirmação do ideal e do projecto comunista, da história e do papel do PCP na sociedade, do desenvolvimento da luta contra a política de direita e por uma ruptura e mudança na vida nacional.
Comemorações profundamente ligadas à vida, aos problemas, aos anseios e reivindicações que se colocam na actualidade ao povo português, com incidência em toda a intervenção partidária, particularmente junto dos trabalhadores e da juventude e que, pela sua dimensão e abrangência, traduzirão o significado político que esta data tem para a luta dos trabalhadores e do povo português, projectando-se com diferentes expressões ao longo de todo o ano de 2011.
Comemorações que serão expressão de uma inesgotável confiança na luta da classe operária, dos trabalhadores e do povo português. Uma luta que, mais cedo do que tarde, afirmará uma outra política e um outro rumo capaz de assegurar um país de progresso, de justiça social, um Portugal livre e soberano.
O PCP dirige-se aos trabalhadores e ao povo português reafirmando a sua determinação em prosseguir a luta por uma sociedade socialista que incorpore e desenvolva os elementos constitutivos fundamentais da democracia avançada e concretize o poder dos trabalhadores e do povo, uma sociedade liberta da exploração do homem pelo homem, na qual sejam assegurados a todos o direito ao trabalho, à saúde, ao ensino, à habitação e à reforma e da qual sejam banidas as desigualdades, injustiças, discriminações e flagelos sociais.
Com o seu incomparável percurso de 90 anos de luta o PCP assume, neste início da segunda década do século XXI, o seu compromisso de sempre com os trabalhadores, a juventude e o povo, a luta pela liberdade, a democracia, o socialismo e o comunismo.


24 fevereiro 2011

Sobre a situação no mundo árabe

Nota do Gabinete de Imprensa do PCP
O PCP expressa a sua solidariedade para com as lutas e os levantamentos populares em diversos países do mundo árabe, do Magrebe ao Médio Oriente, em prol do emprego, pela melhoria das condições de vida, pelos direitos sociais e laborais, pela liberdade e a democracia.
O PCP reafirma a sua solidariedade para com as forças democráticas, progressistas e revolucionárias que resistiram durante décadas à opressão de regimes apoiados pelos EUA e pela União Europeia e por organizações como a Internacional Socialista e que agora se integram em amplos movimentos de luta popular que - a concretizarem-se as suas legitimas aspirações - representarão avanços significativos de natureza democrática no mundo árabe e importantes revezes para a estratégia de dominação do imperialismo no Norte de África e Médio Oriente.
Valorizando as vitórias alcançadas pelos povos tunisino e egípcio com o afastamento dos ditadores, o PCP alerta para os perigos e tentativas de condicionar e reverter os avanços até aqui conquistados pela luta de massas e reafirma a importância da intensificação da solidariedade para a satisfação das exigências populares, como o afastamento de todos os responsáveis dos regimes opressores, a realização de profundas transformações no plano económico, social e político e o fim da ingerência externa e da submissão aos interesses das potências imperialistas.
O PCP condena a repressão que se faz sentir em países como o Iémen, Bahrein, Argélia, Marrocos e Líbia. Apela à resolução pacífica dos conflitos internos na Líbia, chama a atenção para os perigos que, no quadro de uma grave situação interna, pendem sobre a independência e integridade territorial deste País e alerta para as manobras protagonizadas pelos EUA, União Europeia e NATO que, demonstrativas da sua política de dois pesos e duas medidas, suscitam profunda inquietação quanto aos riscos de intervenção externa neste País.
Perante os levantamentos populares e face à real ameaça aos seus interesses, o imperialismo procura retomar a iniciativa visando garantir o domínio desta região, salvaguardando os seus profundos laços e suporte político, económico e militar com regimes que lhe sejam subservientes e com quem possa continuar a partilhar a exploração dos povos árabes e o controlo dos seus imensos recursos energéticos.
Os importantes acontecimentos em diversos países árabes não podem ser dissociados da longa história de ingerência e agressão por parte dos EUA e das grandes potências capitalistas da UE. O PCP denuncia a profunda hipocrisia e cinismo dos EUA e da UE que, clamando pelo respeito dos direitos humanos e os direitos dos povos, procuram esconder que são os primeiros responsáveis pela sua mais grave violação e desrespeito através do seu apoio e profunda conivência com os regimes opressores, seus aliados na região, e por anos de ingerência, forte presença militar, agressão e guerra aos povos árabes, seja na Palestina, no Líbano ou no Iraque.
Ao contrário do que a orquestrada operação de desinformação pretende fazer crer, os EUA e a UE não estão preocupados com o respeito pelos direitos humanos e as legitimas aspirações e direitos dos povos árabes. Aliás, o recente veto da Administração Obama no Conselho de Segurança das Nações Unidas a uma proposta de resolução que exigia o fim da construção de novos colonatos israelitas nos territórios palestinianos ocupados desde 1967, vem uma vez mais desmascarar a Administração Norte-americana, pondo a nu o seu apoio à política colonialista e genocida do Governo de Israel, seu cúmplice nos planos de domínio para o Médio Oriente.

Reunião da Assembleia Municipal

Reunião da Assembleia Municipal de Alcanena dia 25 de fevereiro 21:00
Edital, clique aqui.

18 fevereiro 2011

NÃO APLICAÇÃO DE PORTAGENS NA A23

É a proposta apresentada no projecto de resolução pelos deputados do PCP na Assembleia da República. Os comunistas pretendem com a apresentação do documento, entregue no passado dia 9 de Fevereiro, dar à Assembleia a República a possibilidade de se pronunciar "de forma clara" sobre a introdução de portagens na auto-estrada da Beira Interior.
Para o grupo parlamentar do PCP na AR, a introdução de portagens na A23 "terá consequências profundamente negativas para as populações e para o tecido económico das regiões atingidas", acrescentando tratar-se de "uma dupla discriminação das regiões do interior dado que as portagens "vão onerar de uma fora, desproporcionada e injusta as populações e as empresas dos distritos de Castelo Branco, Guarda, Santarém e Portalegre"
A ausência de alternativas à A23 e o repúdio por parte das populações, autarquias e associações empresariais afectadas pela medida, são outros dos motivos apontados pelo PCP para apresentar o projecto de resolução.
Paulo Pinheiro (Rádio Cova da Beira)

16 fevereiro 2011

GALP, um escândalo: Especulação dá 156 milhões de euros de lucro em 2010

Sempre que o problema dos preços dos combustíveis em Portugal chega aos meios de comunicação, os representantes das petrolíferas atribuem a responsabilidade à elevada carga fiscal, o que não inteiramente verdade, o governo e a inútil Autoridade para a Concorrência respondem com um silêncio aquiescente. Como Eugénio Rosa demonstra neste texto com base em números divulgados pelo ministério da Economia e pela própria GALP, esta petrolífera portuguesa “obteve em 2010 elevados lucros praticando também preços sem impostos superiores aos da maioria dos países da União Europeia”. Mas num Estado de classe ao serviço do grande capital, os governos são meros gestores dos interesses da classe dominante. É por isso que “os italianos da ENI, e Américo Amorim e os angolanos da Amorim Energia (no conjunto detêm 66% do capital da GALP) não pagam qualquer imposto em Portugal pelos dividendos que recebem [da GALP] (artº 14º do Código IRC).”
Carregue aqui para ver o artigo [PDF]

in: Odiário.info

15 fevereiro 2011

80 anos de Jornal Avante!

A inevitável opção de resistir
Ao proletariado de Portugal. Foi com estas palavras, impressas na manchete da primeira edição do Avante!, a 15 de Fevereiro de 1931, que começou esta caminhada de 80 anos assinalada nesta edição. Nesse ano distante construía-se já no País aquela que foi a mais longa ditadura fascista da Europa, que oprimia e favorecia a cruel exploração dos trabalhadores pelos potentados económicos e calava qualquer anseio de liberdade, democracia e justiça. O movimento sindical e operário foi esmagado, os partidos proibidos, assim como os seus periódicos. Só o PCP optou por resistir e prosseguir o combate – mas tal obrigava a que o fizesse na mais rigorosa clandestinidade, enfrentando a feroz perseguição dos esbirros do fascismo.
O surgimento do Avante! foi um dos resultados da reorganização do Partido iniciada em Abril de 1929, sob a direcção de Bento Gonçalves, e que transformou o PCP num partido revolucionário, com crescente influência entre as massas e, assim, mais capaz de lutar nas difíceis condições de clandestinidade. Mas a publicação do Avante! foi, também ela, um importante contributo para a construção do Partido e para a divulgação das ideias do socialismo, bem como para a mobilização para a luta. Aplicava-se assim, à realidade portuguesa da época, os ensinamentos de Lénine relativos ao jornal comunista: este deveria ser um agitador, um propagandista e um organizador.
Apesar dos êxitos notáveis alcançados pelos comunistas ao longo da década de 30, o PCP não estava ainda preparado para resistir à crescente violência do salazarismo, embalado então pelas vitórias dos seus aliados Hitler, Mussolini e Franco. As prisões de dirigentes e militantes sucedem-se (entre as quais a de Bento Gonçalves e de outros membros do Secretariado) e o Avante! ressente-se, vendo a sua publicação interrompida e retomada por cinco vezes. Em finais de 1938, praticamente deixa de se publicar.
O jornal da luta antifascista
Em Agosto de 1941, o Avante! voltou a sair, fruto da reorganização do Partido iniciada um ano antes por militantes como Álvaro Cunhal, José Gregório, Sérgio Vilarigues, Militão Ribeiro, Pires Jorge, Pedro Soares, Manuel Guedes e Júlio Fogaça. Nestes anos, fruto das medidas organizativas e políticas tomadas, o PCP torna-se no grande partido da resistência antifascista – um partido com implantação nacional e junto de vários sectores, com um aparelho clandestino mais preparado para resistir às ofensivas da polícia e com capacidade para trazer para a rua as massas populares, cada vez mais esmagadas pela exploração e pela carestia de vida.
Nestes anos, o Partido alarga-se: entre 1943 e 1946, o número de militantes aumenta seis vezes e as organizações locais cinco. A tiragem do Avante! quadruplica. No início dessa década, ao apelo do Partido, travam-se grandes greves e manifestações, as maiores que o fascismo enfrentara até então.
Acompanhando este crescimento do Partido e da luta, e contribuindo decisivamente para ele, o Avante! saiu ininterruptamente até Abril de 1974, enfrentando e fintando a apertada repressão fascista. Num país amordaçado pela censura, o Avante! exerceu o direito à informação, publicando o que o fascismo pretendia calar: pelas suas páginas passou a denúncia do fascismo e daqueles a quem servia (os latifundiários e os monopólios, associados ao imperialismo); passou a acusação dos crimes cometidos contra os antifascistas no País e nas ex-colónias; a valorização das lutas travadas nas fábricas, nos campos e nas universidades; a exposição da política do Partido; a solidariedade internacionalista. Nas centenas de números publicados ao longo destas décadas, o Avante! cimentou consciências, construiu a unidade, mobilizou para a luta. Foi – como continua a ser – um constante e fiel aliado dos trabalhadores e do povo português no seu longo e tenaz combate pela liberdade.

Novembro de 1967


Avante! número 100, de Abril de 1947

Dedicação e coragem
O Avante! é, em todo o mundo, o jornal que mais tempo resistiu na clandestinidade – sempre composto, impresso e distribuído no interior do País, o que também faz dele um caso único. Para que tal fosse possível houve que montar um poderoso e minuciosamente organizado aparelho clandestino, capaz de iludir a polícia e resistir às suas constantes perseguições. Mesmo nas raras vezes em que a repressão localizou e assaltou uma tipografia clandestina, logo outra entrava em funcionamento garantindo a saída atempada do Avante! e de outros jornais e folhetos.
Por detrás deste notável feito está a dedicação, a coragem e a entrega sem limites de numerosos comunistas que consagraram a sua vida à imprensa do Partido. Vidas inteiras passadas a compor, à meia-luz, com minúsculas letras de chumbo, milhares de páginas do Avante!; a imprimi-las com o pesado rolo; a defender a tipografia de forma a não levantar suspeitas; a desmontar tudo e a fugir, sempre que se desconfiava que a polícia pudesse andar a rondar; e a montar tudo novamente noutro sítio. Vidas dedicadas a fazer chegar os textos aos tipógrafos e os jornais ao povo, calcorreando milhares de quilómetros a pé ou de bicicleta, sempre sob a ameaça de prisão – que poderia significar, e em alguns casos significou, a tortura e a morte.
José Moreira morreu na tortura em 1950, recusando-se a entregar à PIDE a localização das tipografias clandestinas. José Dias Coelho, artista plástico autor de algumas das mais célebres ilustrações que embelezaram as páginas do Avante!, caiu varado às balas da PIDE 11 anos depois. A professora primária Maria Machado foi torturada e não denunciou os seus camaradas, e Joaquim Rafael acabaria por sucumbir poucos dias depois do 25 de Abril com a saúde arrasada pelo chumbo com que trabalhou em 25 anos enquanto tipógrafo clandestino. São alguns dos heróis que fizeram da história do Avante! um exaltante percurso, que continua.
O Avante! nasceu a 15 de Fevereiro de 1931, na clandestinidade, e assim resistiu até 1974


Janeiro de 1933


Primeira semana de Setembro de 1937


Durante mais de 40 anos de clandestinidade, o Avante! apelou à luta e denunciou a repressão



Na década 30 , anos de consolidação do fascismo, a publicação do Avante! é interrompida diversas vezes

A reorganização de 1940-41 criou as condições para defender o Avante! das ofensivas da polícia

Último Avante! clandestino, de Abril de 1974

As tipografias clandestinas, representadas por José Dias Coelho, eram o «coração da luta popular», como lhes chamou José Moreira

Em Agosto de 1941, o Avante! volta a sair para nunca mais parar



José Moreira, Maria Machado, José Dias Coelho, Joaquim Rafael

O jornal da liberdade e da democracia
O organizador colectivo, o agitador colectivo, o propagandista colectivo sempre em prol da unidade, da coesão e do fortalecimento do Partido, o Avante! foi, desde as primeiras horas do alvor de Abril, o jornal da liberdade e da democracia.
Percursor da luta antifascista – e por isso o mais sólido reduto no combate pela destruição da ditadura terrorista dos monopólios e dos latifúndios associada ao imperialismo, a qual, durante 48 anos, sufocou o povo português e os povos das ex-colónias e vendeu os recursos pátrios a retalho –, o Órgão Central do PCP colocou-se imediatamente ao lado das massas populares aliadas ao Movimento das Forças Armadas, contribuindo não apenas para a sua consolidação, mas, igualmente, para o seu reforço e avanço no curso frutuoso do processo revolucionário.
Foi a voz imprescindível dos que não aceitaram mudanças «cosméticas» no regime e exigiram a imediata instauração de amplas liberdades em todas as dimensões da vida nacional. Enfrentando neofascistas de pingalim, liberais situacionistas, reformistas burgueses ou aventureiros pseudo-revolucionários, o Avante! saiu audaz à luz do dia para promover os objectivos da revolução democrática e nacional e a efectivação prática das suas etapas.
Houve quem quisesse calar a voz dos comunistas e dos seus aliados, procurando garantir o que o fascismo nunca tinha conseguido em décadas de feroz repressão. Mas no Avante! ecoaram os gritos do tempo novo, do imparável movimento que, resistindo, a golpes e manobras palacianas, concretizou a liberdade e a democracia exercendo-as; que arrancou pela raiz as mordaças, o medo e a tortura impostos pela PIDE e pela bufaria fascista; que libertou os presos políticos e legalizou as organizações políticas e sindicais; que obrigou à realização de eleições livres e à instituição de um regime constitucional profundamente progressista; que lançou pontes de paz, cooperação e amizade com todos os povos do mundo.


Voz das conquistas de Abril
Abril foi muito mais do que a substituição de um regime ditatorial por um outro, democrático, e no Avante! dos primeiros anos da revolução portuguesa encontramos relatadas as gloriosas páginas da construção de um País completamente novo.
À democratização política então em curso tinha que corresponder a democratização económica, social e cultural, e a essa empresa levada a cabo pelas massas populares dedicou o jornal do Partido da classe operária e de todos os trabalhadores o melhor das suas forças.
Adiantando-se não raras vezes à iniciativa dos órgãos de soberania, o povo português transformava as relações sociais e projectava uma forma de organização da sociedade mais justa, participada e desenvolvida, conquistando objectivamente o futuro. O Órgão Central do PCP cumpriu o papel que lhe estava destinado em tão exaltante processo.
Durante os governos provisórios liderados por Vasco Gonçalves, os trabalhadores e o povo tiveram no executivo um sólido aliado nesse salto em frente, por isso, mesmo depois do seu afastamento pela reacção capitalista, o «companheiro Vasco» perdurou no coração de muitos portugueses para quem a gratidão não é uma palavra vã.
Duradouras, ainda, e durante muitos anos motivando tenaz resistência das massas em sua defesa, as conquistas de Abril que o Avante! tão amplamente promoveu e divulgou: a Reforma Agrária e as profundas alterações que produzia na vida de milhares de trabalhadores rurais do Alentejo e Ribatejo; a repartição mais equilibrada da riqueza entre capital e trabalho; os serviços públicos de saúde, educação e previdência, e a fruição do lazer e acesso à cultura; os direitos sociais e laborais e o direito à habitação; o controlo e gestão operária; o sector empresarial do Estado e a propriedade pública dos sectores fundamentais no quadro de uma economia ao serviço dos trabalhadores, do povo e do País.
Estes são elementos sem os quais não é possível compreender o alcance da Revolução de Abril, e que o Avante! continua a afirmar como imprescindíveis para superar o declínio nacional rumo à construção de uma democracia avançada num Portugal de progresso, justiça e soberania.
Defender, resistir, ganhar força
Há mais de 35 anos que nas páginas do Avante! se reflecte a luta dos comunistas e seus aliados, a luta dos trabalhadores e das massas populares, para fazer frente à contra-revolução e à política de direita, batendo-se pelos ideais e pelas conquistas de Abril.
Vejamos o ano de 1976, o primeiro destas décadas em que se defende o que foi conquistado, resistindo a uma ofensiva tão violenta quanto prolongada e mantendo como perspectiva, anos a fio, reunir forças suficientes para voltar a colocar o País nos caminhos que Abril permitiu rasgar – e cujos frutos perduram até hoje, seja em já insignificantes pormenores da rotina diária das portuguesas e dos portugueses, seja na memória de quem viveu aqueles dias, seja no saber de quem já nasceu depois e se acha justamente filho e herdeiro daquela revolução.
É difícil afirmar com exactidão quando começou a contra-revolução. Talvez no próprio dia 25 de Abril de 1974, talvez ainda antes... Um marco será 25 de Novembro de 1975, mas a 2 de Abril de 1976 a Constituição foi aprovada livremente pelos deputados. O ano de 1976 que encontramos no Avante! é preenchido com luta intensa e apaixonada. Já não é ano de conquista, de progresso, mas nele podemos encontrar explicações para o facto de um período tão curto de avanços demorar tantos anos a anular.
Saltemos depois onze anos e dez governos. Deixemos para outra ocasião os executivos «de iniciativa presidencial» e os da «Aliança Democrática», o último PS/Soares e o primeiro PSD/Cavaco. Vamos para 1987. As forças de direita entendem que a revolução de Abril acabou a 19 de Julho? «Vontade não lhes falta, mas querer não é poder», responde Álvaro Cunhal, um mês depois das eleições em que o professor de Boliqueime obteve maioria absoluta para o PSD. Na primeira página do Avante! de 29 de Outubro, vemos a ofensiva contra o sector empresarial do Estado, a XI Conferência da Reforma Agrária e os 70 anos da revolução de Outubro – grandes frentes de uma batalha que até hoje não está dada por perdida.
Em Janeiro de 1976, um Editorial alertava que «nada está ainda definitivamente assegurado, nem sequer a democracia». Uma lista de mais de 300 actos terroristas, ocorridos desde Maio de 1975, incluía 46 só naquele primeiro mês do novo ano. A 17 de Janeiro, o Estádio 1.º de Maio enche-se com um grande protesto unitário contra o aumento do custo de vida. Ao mesmo tempo, o Partido realiza grandes comícios e nas cooperativas da Reforma Agrária têm lugar sucessivas jornadas de trabalho voluntário e solidariedade. Muito pouco tempo tinha passado desde o golpe de 25 de Novembro, e o VI Governo provisório, empossado em Setembro de 1975, iria manter-se até Julho
Sem uma forte votação no PCP, «estaria aberto caminho à formação de um governo de direita, com o PS ou sem o PS», avisava Álvaro Cunhal, no início de Abril de 1976. A propósito da influência determinante que teriam as primeiras eleições legislativas, o Secretário-geral do Partido salientava num comício, em Belém, a abrir a campanha, que «as eleições não resolvem tudo» e «a luta de massas continuará sendo, em quaisquer circunstâncias, uma força poderosa para a defesa dos interesses do nosso povo e para alcançar transformações de carácter democrático»
De 11 a 14 de Novembro de 1976, reúne-se o 8.º Congresso do Partido, no final do qual se destaca que «uma solução democrática não é possível em Portugal sem o PCP». No número seguinte, serão noticiadas grandes concentrações em Beja, Évora e Portalegre, em defesa da Reforma Agrária, e anunciadas para o sábado seguinte duas concentrações, em Lisboa e no Porto, contra a recuperação capitalista
Mário Soares fora criticado por, na posse do Governo PS, ter optado pela «maioria presidencial», uma fórmula lançada pelo CDS, quando o povo tinha eleito uma maioria de esquerda. Passado pouco mais de um mês, uma comunicação televisiva do primeiro-ministro suscita ainda mais forte condenação, por conter «clara ameaça às conquistas fundamentais da revolução». A 23 de Dezembro, assinalava-se que «a democracia portuguesa entrou numa nova e perigosa curva», pois «à conspiração contra-revolucionária fascista e fascizante junta-se a política anti-operária e antipopular do Governo PS». Assim abria o texto saído da reunião do Comité Central de dia 20. Apesar de todas as fortes e justificadas críticas anteriores, no número da semana seguinte noticia-se com destaque a abstenção do PCP na votação do Orçamento e do Plano, cuja aprovação «afastou a crise que poria em causa a sobrevivência do Governo PS, crise que os partidos de direita procuravam e que, nas presentes circunstâncias, só serviria os objectivos da reacção»
«Vontade não lhes falta, mas querer não é poder» responde Álvaro Cunhal às forças de direita que entendem que a revolução de Abril acabou a 19 de Julho de 1987. O Avante! de 20 de Agosto inclui uma extensa entrevista, em que, a propósito da exigência da demissão de governos, que acabam substituídos por outros piores, o Secretário-geral recusa tal regra e lembra que, «em alguns casos, com a demissão de governos com uma política de direita, interromperam-se e paralisaram-se planos contra-revolucionários que se lançavam na fase final da sua ofensiva»
As conquistas da revolução portuguesa apontam para a construção da sociedade socialista, como ficou consagrado na Constituição e como o PCP não deixou de defender
A derrota de Cavaco e do PSD mostrou a vontade de mudança, mas para que esta não seja defraudada, há que prosseguir a luta
A luta contra os governos PSD/CDS teve um ponto alto na greve geral de 2002, especialmente apontada contra o pacote laboral
A demissão de Santana Lopes e a dissolução do Parlamento, em Dezembro de 2004, voltam a colocar a exigência de reforçar nas eleições a CDU e o PCP, que realizara o seu 17.º Congresso no final de Novembro. No debate do Programa do Governo, já com José Sócrates como primeiro-ministro, confirma-se que a vitória do PS não garante uma efectiva mudança de política. Um ano depois, não só prosseguia a política de direita, como desenvolvia uma acção deliberada para a acentuar e aprofundar. No fim do ciclo eleitoral de 2009, afirmava-se que a questão política essencial é a ruptura com a política de direita de três décadas de governos PS e PSD, com ou sem CDS
Páginas do internacionalismo proletário
As páginas do Avante!, órgão Central do Partido Comunista Português, são expressão do internacionalismo proletário que norteia a acção do Partido. Criado no impulso da revolução de Outubro, o PCP, e por dever assumido o seu jornal, consolidaram-se como baluartes da solidariedade para com os povos que, nos territórios soviéticos e depois em todos os continentes, derrubaram o sistema baseado na exploração substituindo-o pela soberania e o progresso proletários.
Assim, durante as décadas de 30 e 40 do século passado, encontramos no Avante! os avanços da construção do socialismo no primeiro Estado de camponeses e operários do mundo e os seus ensinamentos políticos e ideológicos, fundamentais para formar gerações nos princípios do marxismo-leninismo.

Destacada, neste período, também a luta dos povos contra a ascensão da barbárie nazi-fascista. Só no periódico comunista é possível encontrar o curso das guerras Civil Espanhola e Mundial. Só no nosso jornal se denunciou a natureza de classe destes conflitos imperialistas, a sua sanha contra o movimento operário e a URSS, estandarte dos povos na luta e triunfo sobre a expressão mais violenta do capitalismo e, posteriormente, exemplo e sólido apoio na edificação de democracias populares.
A vitória das forças progressistas tiveram forte impacto no combate ao colonialismo e ao imperialismo. Nas décadas após a II Guerra Mundial, encontramos no Avante! a luta dos povos pela emancipação nacional e social em África - com destaque para os movimentos que nas então colónias ultramarinas portuguesas faziam sua a bandeira da luta contra a ditadura fascista em Portugal -, na Ásia ou na América Latina.
E mesmo quando no dobrar do novo século muitos capitularam perante a falsa tese do fim da História, decretada pelos que sonham com o fim da luta de classes e a domesticação das organizações revolucionárias empenhadas em transformar o modo de produção opressor e irracional, foi e é no Avante! que os trabalhadores e os povos têm espaço e voz, facto evidente quando mais uma crise do capitalismo mostra os limites do sistema, desnudando que a resposta ao agravamento da exploração, ao domínio do capital financeiro e à guerra, é o socialismo e o comunismo.
O jornal que dá nome à Festa


O trabalho voluntário é uma característica de sempre da festa dos comunistas. O Avante! mobiliza
O Avante! é, orgulhosamente, o jornal que dá nome à Festa. Sonho acalentado durante décadas de resistência ao fascismo, a Festa do Avante! é a grande festa do Portugal de Abril – não só por Abril a ter tornado possível, mas por conter, como nenhuma outra realização, os seus valores e conquistas e ter atrás de si o colectivo do Partido que luta sem desfalecimentos por prosseguir os caminhos abertos nessa madrugada libertadora de 1974.
Foi em 1976 a primeira Festa, a «Festa que Portugal nunca tinha visto», como anunciou a manchete do Avante! de 30 de Setembro desse ano. O mesmo que no interior destacava, do discurso de Álvaro Cunhal no comício, que «esta Festa do nosso glorioso Avante!, do nosso glorioso Partido, é a maior, a mais extraordinária, a mais fraterna e humana jamais realizada no nosso País».
De então para cá, ao longo de mais 33 edições, enfrentando dificuldades e até sabotagens, a Festa do Avante! – erguida e mantida pelo esforço colectivo e voluntário dos militantes e amigos do Partido – continuou a ser essa realização ímpar, melhor a cada ano que passa, que conquistou o coração dos trabalhadores e do povo. E nunca o Avante! deixou de acolher nas suas páginas o que de melhor se passava na Festa: dos espectáculos às exposições, dos comícios ao debates, do trabalho voluntário ao ambiente fraterno e revolucionário que naqueles três dias se faz sentir e que sempre transbordou para a luta que continua cá fora. Como o fez, em Setembro de 1990, quando realçou que essa edição seria «ainda mais diferente», pois realizava-se «no seu terreno próprio, no nosso terreno. É na Atalaia».
Vinte anos depois, a Quinta da Atalaia continua a receber a mais bela de todas as festas – que é, todos os anos, um novo arranque da luta. Foi precisamente o que sucedeu há poucos meses. Finalizada a 34.ª edição, apelava o Avante!: Romper o cerco das injustiças, passar à ofensiva.

Em 1976 , a primeira Festa do Avante!

Em cada Festa é a luta que se reforça (Avante! de 9 de Setembro de 2010)
Em 1990, a Festa muda-se para a Atalaia. Nunca mais seria preciso andar com a casa às costas
O comício do domingo da Festa do Avante! é, de longe, o maior que se realiza em Portugal.
Um jornal insubstituível
Nas batalhas mais recentes confirmam-se as potencialidades da mobilização popular e reafirma-se a necessidade de desenvolver a luta dos trabalhadores e reforçar o PCP
O direito de informar, de se informar e de ser informado, sem impedimentos nem discriminações está consagrado na Constituição Portuguesa. A lei fundamental garante ainda que o exercício destes direitos não pode ser impedido ou limitado por qualquer tipo ou forma de censura. Parece coisa simples e elementar, mas chegar a este patamar custou ao povo português uma luta sem tréguas e pesados sacrifícios – até da própria vida – que não podem nem devem ser esquecidos, não apenas porque não há vitórias definitivas mas também porque os direitos – para não serem letra morta – têm de ser exercidos e respeitados.
O Avante!, enquanto jornal que orgulhosamente se assume como um jornal de classe, como uma arma insubstituível do PCP – o Partido dos trabalhadores e do povo – ao serviço dos trabalhadores e do povo, ocupa nesta frente um papel insubstituível.
Desde a sua criação na mais rigorosa clandestinidade até aos dias de hoje que o Avante! é a voz dos que não têm voz e que nas suas páginas se escreve, com todo o rigor, sobre o que não se pode ler em mais nenhum outro órgão de comunicação.
O jornal do Partido dos trabalhadores dá voz à luta organizada dos trabalhadores e das massas populares

Só um grande Partido como o PCP consegue transformar assim o Campo Pequeno – XVIII Congresso, 29 e 30 de Novembro e 1 de Dezembro de 2008
Saber o que propõe, o que defende o PCP, como leva a cabo o seu trabalho colectivo, como mobiliza os seus militantes para as batalhas de todo os dias só é possível através das páginas do nosso jornal. A razão é simples: a generalidade dos restantes órgãos de comunicação – e em particular os órgãos dominantes – estão nas mãos dos grandes grupos financeiros, logo ao serviço do capital, e por mais que se afirmem democráticos, isentos e pluralistas não podem deixar de ser a voz do dono e, consequentemente, têm como missão – não assumida mas nem por isso menos prosseguida – combater por todas as formas ao seu alcance, e designadamente pela desinformação, pelo silenciamento, pela manipulação, quem denuncia e combate consequentemente o sistema capitalista.
Por isso mesmo também nenhum outro jornal dá voz, como o Avante!, à luta organizada dos trabalhadores e das m assas popu lares, não apenas pelos seus legítimos direitos mas também pela construção de um sistema liberto da exploração do homem pelo homem, o socialismo. Para saber o que se passa no País, para conhecer como vive e sente quem trabalha e legitimamente aspira à justa repartição da riqueza, à justiça social, é preciso e indispensável ler o Avante!.
É dessa realidade que se fazem as nossas páginas.
É essa a nossa batalha de jornal que toma partido. Sempre.








































11 fevereiro 2011

“QUE PARVA QUE EU SOU”

Sou da geração sem remuneração
E não me incomoda esta condição
Que parva que eu sou
Porque isto está mal e vai continuar
Já é uma sorte eu poder estagiar
Que parva que eu sou
E fico a pensar
Que mundo tão parvo
Onde para ser escravo é preciso estudar

Sou da geração "casinha dos pais"
Se já tenho tudo, pra quê querer mais?
Que parva que eu sou
Filhos, maridos, estou sempre a adiar
E ainda me falta o carro pagar
Que parva que eu sou
E fico a pensar
Que mundo tão parvo
Onde para ser escravo é preciso estudar

Sou da geração "vou queixar-me pra quê?"
Há alguém bem pior do que eu na TV
Que parva que eu sou
Sou da geração "eu já não posso mais!"
Que esta situação dura há tempo demais
E parva não sou
E fico a pensar,
Que mundo tão parvo
Onde para ser escravo é preciso estudar

DEOLINDA

10 fevereiro 2011

Precariedade Laboral atinge mais de um milhão e meio de trabalhadores

Intervenção de Rita Rato na Assembleia de República

Senhor Presidente,
Senhores Deputados,
A precariedade laboral é uma praga social que atinge hoje cerca de 1 452 600 trabalhadores, sobretudo jovens e mulheres, a viver sempre na intermitência dos estágios não remunerados, dos estágios profissionais, do emprego sem direitos e do desemprego, sem saber quando e se terão direito ao domingo na folga semanal, sem saber quanto e se vão receber sempre a dia certo; sem saber se terão perspectiva de valorização do seu trabalho e progressão na carreira; mas a saber que os falsos recibos verdes lhe comem 30% do salário.
São enfermeiros, professores, psicólogos, formadores, operários especializados, operadores de call-center, trabalhadores do comércio nas grandes superfícies, operadores de caixa, e muitos muitos outros, que escondem habilitações académicas para ter um emprego. São pessoas disponíveis para quase tudo, para em troca receberem uma mão cheia de quase nada.
Hoje no nosso país existem mais de 700 mil desempregados que provam que não é difícil ser despedido no nosso país. Mas temos também mais de 1 milhão de trabalhadores a recibos verdes, uma fatia significativa de falsos recibos verdes, que têm um supervisor, que têm um horário de trabalho definido, que têm uma remuneração fixa, mas que não têm um contrato com direitos. A larga maioria destes trabalhadores ocupam um posto de trabalho permanente mas não têm um contrato efectivo.
Hoje no nosso país existem mais de 300 mil jovens que não trabalham nem estudam e que são atirados ao desperdício com grande prejuízo económico e social para o país.
Hoje o nosso país, de acordo com dados do Eurostat, depois da Polónia e Espanha, Portugal é o país da União Europeia com maior taxa de trabalhadores contratados a prazo, 22% da população empregada.
A violência destes números revela bem que a política laboral do Governo PS, apoiada pelo PSD e CDS, pretende impor direitos laborais do séc. XIX aos trabalhadores do séc. XXI.
Esta política laboral e social que é um retrocesso civilizacional, fragiliza os trabalhadores e aprofunda a exploração, ao mesmo tempo que reforça o poder dos grandes grupos económicos e do patronato.
A precariedade nada tem de “pós-moderno”, é tão velho e secular como o é a luta de classes e a exploração do homem pelo homem. Os falsos recibos verdes, os contratos a prazo, as fábricas de precariedade que são as Empresas de Trabalho Temporário são formas de exploração seculares que exigem uma política de estado para a sua erradicação. A erradicação da precariedade deve ser assumida como foi a erradicação do trabalho infantil.
Sr. Presidente e Sr. Deputados,
Antes do 25 de Abril muitos jovens imigravam do Interior do país para Lisboa à procura de um futuro melhor, mas os salários eram muito baixos eram obrigados a dividir casa com outros jovens. Hoje cada vez mais jovens trabalhadores altamente qualificados são obrigados a recorrer a esta fórmula para sair da casa dos pais, caso contrário, a alternativa é adiar cada vez mais esta decisão.
Hoje muitos jovens casais adiam a decisão de ter filhos, porque amanhã não sabem se ainda vão ter emprego; porque amanhã sabem que não têm direito ao subsídio de desemprego; não sabem qual será o seu horário laboral; porque o salário mal dá para dois quanto mais para 3; porque sabem que a seguir aos contratos a prazo, aos recibos verdes e ao trabalho temporário vão novamente apresentar-se quinzenalmente no Centro de Emprego...
Por tudo isto é urgente garantir que a um posto de trabalho permanente corresponda um vínculo efectivo. Que os falsos recibos verdes na Administração Pública sejam integrados no quadro, e não despedidos ou transformados “em empresários em nome individual”.
É o próprio Estado que mantém mão-de-obra qualificada a recibos verdes – no Instituto Tecnológico e Nuclear, nos milhares de professores das Actividades de Enriquecimento Curricular, nos psicólogos e terapeutas, nos formadores nas escolas. É o Governo PS que promove o trabalho temporário permitindo que muitos centros de emprego funcionem hoje como entrepostos das empresas de trabalho temporário.
Por tudo isto, é urgente promover a estabilidade de emprego, cumprindo e fazendo cumprir o direito ao trabalho e à segurança no emprego, assegurando vínculos de trabalho estáveis e combatendo todas as formas de precariedade.
Aqueles que dizem que isto é um conflito de gerações, dizemos que isto é sim, a expressão actual de uma luta de classes que se agudiza e que se traduz na tentativa do poder económico e do poder político ao seu serviço, de dividir os trabalhadores e impor às novas gerações a retirada de direitos historicamente conquistados com a luta dos trabalhadores.
Aqueles que dizem que “Este país não é para jovens”, o PCP responde que não que este país não só é para jovens, como podem os jovens com a sua luta construir um presente e um futuro melhor, onde haja direito ao emprego com direitos, ao direito à habitação para os jovens sem ficar reféns de rendas exorbitantes e créditos bancários asfixiantes, de direito a ser independente dos pais e a constituir família.
Aqueles que dizem que já não há empregos para a vida, que a estabilidade profissional e pessoal é coisa do passado, os jovens respondem que não. Que não estão condenados a esta política de agravamento da exploração e da retirada de direitos conquistados com a luta de gerações e gerações de trabalhadores.
Os jovens, as mulheres, os trabalhadores e o povo português merecem e continuam a lutar todos os dias por uma vida melhor. O PCP também.

09 fevereiro 2011

07 fevereiro 2011

Praça Tahrir, Cairo. A liberdade está a passar por aqui!


Tahrir Square, Cairo, Feb 1 2011 from Oliver Wilkins on Vimeo.

Adesão esmagora dos trabalhadores à greve do Metro: Contra o Roubo nos Salários!

Realizou-se, com êxito, mais uma jornada de luta dos trabalhadores do Metropolitano de Lisboa, que encerrou toda a actividade da empresa até às 11h30. Uma luta realizada contra o roubo nos salários dos trabalhadores da Empresa
(desde a reduçao dos salários, à redução do valor hora no trabalho extraordinário e nocturno, ao corte de diversas outras cláusulas do Acordo de Empresa, ao congelamento dos salários, das dioturnidades e progressões). Uma luta inserida na semana de luta dos trabalhadores dos transportes e comunicações, que continuará já na quarta com greves na Trantejo e Carris, na Quinta com greves no Sector Ferroviário e na Sexta com greves na Soflusa e empresas rodiviárias.
O deputado do PCP na Assembleia da República, Bruno Dias, expressou aos piquetes de greve a total e activa solidariedade do PCP com a justa luta que travam.

04 fevereiro 2011

Egípcios seguem exemplo de tunisinos

A força imparável das massas

Tal como aconteceu na Tunísia, também no Egípto o povo não desiste de conquistar o futuro. Anteontem, de acordo com a Al Jazeera, pelo menos dois milhões de pessoas exigiam nas ruas das principais cidades do país – com destaque para o Cairo, Alexandria ou Suez – os direitos sociais e laborais, a justiça social, a democracia e a liberdade negadas durante décadas de ditadura, como refere a nota de solidariedade divulgada pelo PCP.
A capital, e mais concretamente a praça Tahrir (Libertação), era o centro mais visível da revolta, mas em toda a área metropolitana da cidade a televisão do Qatar estima em um milhão o total de manifestantes.
Tal como os tunisinos, também os egípcios conquistaram a pulso não apenas a simbólica praça, tomada definitivamente às autoridades na sexta-feira, dia 29, após quatro dias de confrontos e repressão policial que deixaram cerca de 140 mortos, milhares de feridos e detidos – mas sobretudo o direito de fazerem ouvir a sua voz de exigência de mudança.
Foi a força imparável das massas em movimento que, na Tunísia, forçou, a 14 de Janeiro, o déspota Ben Ali a fugir para a Arábia Saudita. A data empresta o nome à Frente que forças democráticas e progressistas, entre as quais o Partido Comunista da Tunísia, constituíram com o objectivo de conduzir o processo revolucionário.
É também o caudal imenso de vontade popular que no Egipto impõe a dinâmica transformadora e recusa negociações com Mubarak e os seus partidários, desconfia de caudilhos e salvadores da pátria como o recentemente regressado El Barahdei, e obriga as Forças Armadas a abandonar a fidelidade para com o regime.
O facto das cúpulas militares terem vindo a público considerar «legítimas as reivindicações populares», garantindo a não interferência nas movimentações de massas, indica que Mubarak pode ter já perdido um dos pilares que sustentavam o seu poder, mas confirma, igualmente, uma prática que o curso dos acontecimentos vinha revelando.
Após o abandono das ruas por parte da polícia, os militares não só não colocaram obstáculos como até em alguns casos colaboraram com a constituição dos comités populares que nas cidades asseguram a ordem pública. Alexandria foi um dos primeiros e, porventura, o exemplo máximo, da inevitabilidade do controlo popular sobre os acontecimentos, já que as forças da ordem foram expulsas da cidade, embora, como noutros pontos do país, mantenham unidades mecanizadas nas vias de comunicação.
Alternativa, e não alternância
Tal como na Tunísia, também Hosni Mubarak procurou afogar a revolta, primeiro pela repressão e depois pela ilusão da mudança. Mas o recolher obrigatório nunca foi atendido pelo povo egípcio. Por cada trabalhador que caía morto, dois pareciam levantar as bandeiras do combate à fome, à miséria, ao desemprego, à submissão, mostrando ser impossível aplacar a rebelião.
No final da semana passada, o partido de Mubarak disse cinicamente estar ao lado das reivindicações populares e disposto ao diálogo. Horas depois, o presidente anunciou um novo governo e a intensão de proceder a um alargado conjunto de reformas económicas, políticas e sociais. As promessas acabaram por parir um executivo onde Mahmud Wagdi, ex-responsável pelos serviços carcerários e de investigação criminal, era o ministro do Interior; onde os ministros dos Negócios Estrangeiros e da Defesa, Ahmed Abul Gheit e Husein Tantaui, se mantinham; onde o ex-chefe dos serviços secretos, Omar Suleimán, passava de torcionário máximo a vice-presidente. Tal como os tunisinos, também os egípcios rejeitaram a farsas e a alternância sem alternativa.
Razões profundas
No Egipto, a exemplo do que acontecera na Tunísia, o governo, crente de que o levantamento não tinha raízes profundas nas condições concretas de vida do povo e na situação do país, tentou bloquear a circulação de informação.
O último servidor de Internet a funcionar foi encerrado segunda-feira, mas, tal como nos dias precedentes o bloqueio de outros servidores havia deixado claro, confirmou-se que as redes sociais eram uma (eficaz) forma de dinamização dos protestos, mas as causas profundas para que cada vez mais milhões de pessoas se manifestassem nas ruas não se encontravam na web. Também não se encontravam nas reportagens da Al Jazeera, da Telesur ou de outros meios de comunicação social, cujos profissionais e cobertura noticiosa foram abafados. Encontravam-se e encontram-se na vida que cada um e todos os egípcios já não aceitam seguir do mesmo modo e, por isso, quem os oprimiu e explorou também já não o pode continuar a fazer.
Imperialismo em acção
Desesperados pelo vórtice dos acontecimentos, os imperialistas tentaram meter água na fervura enquanto manobravam. O vice-presidente dos EUA, Joe Biden, sublinhou que «Mubarak não é um ditador», uma vez que tem sido aliado dos EUA na região assegurando os interesses geopolíticos norte-americanos. Posição idêntica assumiu a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, para quem o executivo de Mubarak é «estável» e dá resposta «às necessidades e interesses legítimos dos egípcios».
Quando o movimento se tornou imparável, os EUA passaram a apoiar a «transição ordeira», abstendo-se, no entanto, de condenar as repetidas violações dos direitos humanos cometidas pelo regime durante três décadas e a repressão contra os manifestantes.
Segunda-feira, os norte-americanos ainda enviaram o ex-embaixador Frank Wisner (homem experiente no Egipto, dado que ali esteve entre 1986 e 1991, mas também no Kosovo onde acompanhou o processo de secessão da Sérvia) para contactos nas costuras do poder egípcio; com a missão de transmitir «a perspectiva de Washington sobre os acontecimentos» e levar aos «actores políticos centrais» que tão bem conhece [domina] a visão do presidente Obama de que Mubarak deve mostrar ao povo «acções e não apenas proclamações».
Mas este parece ser um processo no qual, para já, o imperialismo não detém todo o controlo (as declarações de Shimon Peres, presidente de Israel, apoiando abertamente Mubarak expressam alto e bom som que, para o Estado sionista, os EUA deveriam ter intervido «profilaticamente» contra a revolução), e talvez por isso Hillary Clinton tenha convocado para uma reunião de trabalho sobre política externa no Departamento de Estado todos os 260 representantes diplomáticos dos EUA no mundo.
É que no Sudão, Jordânia, Iémen ou Argélia os povos levantam-se, e a julgar pelo que está a acontecer na Tunísia e Egipto, os EUA não pretendem ir a reboque dos acontecimentos, fazendo a triste figura da Internacional Socialista que, após anos de convivência com o Partido Constitucional Democrático de Ben Ali e como Partido Nacional Democrático de Mubarak, os renegou por mau comportamento.
Brutalidade do regime