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27 janeiro 2011

Sinais preocupantes nas eleições Presidenciais: Crise e Democracia começam a ter coexistência difícil

A reeleição de Cavaco Silva é o principal facto negativo nas eleições presidenciais de 23 de Janeiro mas não é o único traço preocupante que resulta destas eleições.
É preocupante que, com a única excepção da candidatura de Francisco Lopes, os candidatos se sentissem à vontade para desenvolver campanhas cujo oportunismo, desfaçatez e demagogia não têm paralelo em qualquer campanha eleitoral anterior no Portugal democrático.
É preocupante o nível de manipulação, de censura pura e simples, de intervenção directa dos grandes meios de comunicação social na tentativa de condicionamento das opções eleitorais em confronto, cujo alvo principal e quase exclusivo foi a candidatura de Francisco Lopes.
É preocupante o nível de abstenção sem precedentes e a grande expressão percentual (que triplica em relação a 2006) dos votos brancos e nulos.
São preocupantes as votações alcançadas não apenas por Cavaco Silva mas também por Fernando Nobre e José Coelho, candidaturas que conseguiram atrair votos de protesto populares à custa de discursos demagógicos e anti-democráticos. Votações que traduzem mais desespero que protesto e que nestes candidatos conduzem a um caminho sem saída.
É merecido, era previsível, mas é também preocupante o descalabro eleitoral da candidatura de Manuel Alegre, apoiada pelo PS e pelo BE. Era previsível que, para além das fraquezas políticas do candidato, esta candidatura fosse sobretudo penalizada pelo descrédito do governo Sócrates. Mas o resultado de agora, pior do que o de 2006, significa que existe hoje uma área social e política - aquela em que PS e BE se implantam - inteiramente neutralizada do ponto de vista orgânico, político e ideológico para o combate à direita.
A capitulação do PS à direita e a cumplicidade do BE com Sócrates patente nestas eleições deixou largas faixas da população portuguesa à mercê do populismo reaccionário, de políticas ainda mais retrógradas, e até da ameaça de soluções autoritárias. E isso é tanto mais preocupante quanto se tenha em conta que a reeleição de Cavaco Silva significa não apenas a continuidade mas o impulso para uma ainda maior radicalização das políticas que vêm conduzindo camadas cada vez mais amplas da população portuguesa ao desemprego, à pobreza e à desprotecção social. Uma ainda maior arrogância nas reivindicações do grande patronato. Estas eleições confirmam que a crise a que a política de direita conduziu o país precipita o seu aprofundamento e abre caminho a novas e mais perigosas ameaças contra o regime democrático.
Estas eleições justificam preocupações acrescidas. Mas não significam desânimo perante a muito dura luta que aí vem. Em primeiro lugar pelo resultado obtido por Francisco Lopes, tanto mais que foi obtido no quadro de uma operação de silenciamento, desfiguração e discriminação mediática sem precedentes. Mas muito mais do que pelo resultado obtido, pela vigorosa e combativa campanha de massas que esta candidatura mobilizou. Pela clareza da mensagem política lançada. Pela forma certeira como falou das dificuldades que os trabalhadores, o povo e o país atravessam e apontou os responsáveis por essas dificuldades. Pela ampla perspectiva de combate que apontou em cada iniciativa, pelo grande movimento de resistência que contribuiu para animar. Há forças capazes de defrontar e vencer a ofensiva de direita.
A reeleição de Cavaco Silva é má notícia. Mas não serão os resultados desta eleição ou de qualquer outra que poderão anular a força organizada da luta de massas que se ergue contra a política de direita e em defesa dos direitos e liberdades. Essa luta tem um adversário no actual governo, continua a ter outro na presidência da República. São os mesmos que já tinha quando uniu e mobilizou mais de 3 milhões de trabalhadores na histórica Greve Geral de Novembro de 2010. Será contra eles e contra os interesses que representam que a luta vai continuar.
E, porque assenta na força maior dos trabalhadores e do povo, com fundas raízes no Portugal democrático, tarde ou cedo triunfará de vez.
24 de Janeiro de 2011.
Os Editores de ODiario.info

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